sábado, 21 de maio de 2011

A importância da família

Como são amáveis as vossas moradas, Senhor!” (Sl 83, 2).
Entre as múltiplas crises pelas quais atravessa o mundo de hoje, uma das mais graves e de conseqüências mais profundas é a da família. É tão desoladora sua situação que não poucos a imaginam à beira da completa extinção. Ora, esse desfecho é impossível, pois ela é uma instituição divina, como mostra uma das bênçãos do Ritual do Matrimônio: “Ó Deus, Vós unis a mulher ao marido e dais a essa união, estabelecida desde o início, a única bênção que não foi abolida, nem pelo castigo do pecado original, nem pela condenação do dilúvio”. Sobretudo, foi elevada à condição de sacramento pelo Homem-Deus.
Não se pode negar que a santidade e a própria estabilidade da família encontram-se gravemente ameaçadas; e os Papas não cessam de alertar sobre este grande mal: a desagregação familiar. Economizemos tempo e espaço, deixando de lado outros aspectos do problema, e concentremos nossa atenção nas suas causas.
Essas, aliás, podem se reduzir a uma só: o fato de se querer expulsar Cristo da sociedade. As outras causas são apenas uma inevitável decorrência desta. Laicismo, materialismo, consumismo, divórcio, uniões ilegítimas, etc., são filhas e netas do retorno à terra daquele brado deicida de outrora: “Crucifica-O, crucifica-O!”
Se as famílias resolverem retomar o princípio de seu caráter sacral e, portanto, cristão, a face da terra será renovada, pois o lar deve ser, antes de tudo, um Tabernáculo do Senhor. Essa concepção religiosa nasce da própria essência e natureza do casamento. Nem sequer os pagãos fugiram dessa visualização, tanto que cultuavam dois deuses protetores do lar e lhes ofereciam sacrifícios.
Para os cristãos, a habitação familiar é um templo onde se encontram oração, pregação e sacrifício. A bênção dos alimentos, a ação de graças, a recitação coletiva do rosário e outras práticas de piedade, a Páscoa e o Natal em comum, etc., constituem a oração na Igreja doméstica.
São João Crisóstomo recomendava vivamente aos pais de família, em Constantinopla e Antioquia, a converterem suas casas em verdadeiros templos. Deviam repetir ali o que haviam aprendido na Igreja. Santo Agostinho ainda ia mais longe, atribuindo-lhes funções episcopais, enquanto responsáveis por transmitir a verdadeira doutrina dentro de casa.
Porém, a mais eficaz pregação é feita através do exemplo. Se o ambiente doméstico é um templo do Senhor, além de oração e pregação, ele exige sacrifício; deve-se nele oferecer uma vítima: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, que ofereçais os vossos corpos como uma hóstia viva, santa, agradável a Deus” (Rm 12, 1).
Não se pode construir uma nova era com famílias desagregadas. Somente com lares bem constituídos e piedosos teremos uma sociedade robusta e sadia. Nenhuma outra época precisou tanto de famílias que dêem à sociedade bons cidadãos, autênticas pilastras e muralhas para a salvação e segurança do bom relacionamento humano. Esse nobre e indispensável objetivo só será alcançado pela restauração dessa célula-mater da civilização, segundo o espírito, a moral e a doutrina da Santa Igreja.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Para obter que Nosso Senhor nos abra a porta, basta ser importuno. Isso está dito textualmente e comentado por um Doutor da Igreja do porte de Santo Afonso de Ligório.
Devemos considerar, de uma vez por todas que, na oração, não são nossas misérias que entram em linha de conta.
A oração não é um cheque bancário contra Deus
A oração tampouco é um cheque que eu saco do fundo dos meus créditos e compro de Deus um favor. É preciso desfazer tal idéia, pois é um obstáculo para o desenvolvimento da nossa vida espiritual.
Oração é algo diferente. Ainda que eu não tenha nenhuma razão para ser atendido, sê-lo-ei pela minha importunidade. A importunidade do pecador abre as portas do Céu e obtém, afinal, tudo quanto possa desejar. É frisante, nesse sentido, a palavra de Nosso Senhor.
S. João Crisóstomo, grande Doutor da Igreja, comenta no mesmo sentido:
A oração vale mais junto de Deus do que a amizade.
É uma afirmação que eu não teria coragem de fazer: estabelecer uma distinção entre a oração e a amizade com Deus, para concluir que a primeira vale mais que a segunda. Ora, isso foi dito por São João Crisóstomo, que Santo Afonso por sua vez cita. A oração vale mais diante de Deus do que a amizade. Entre uma pessoa em estado de graça, mas que não reza, e outra que reza mas não está em estado de graça, quem reza alcança mais favor diante de Deus.
Outro argumento interessante, invocado por Santo Afonso para justificar a tese de ser a oração do pecador eficaz e grata diante de Deus, é a passagem evangélica em que Nosso Senhor elogia a oração do publicano: “Assim é que se deve rezar!” Qual é o título que o publicano apresenta diante de Deus para ser atendido? Não é o “cheque” que os fariseus apresentam: “Agora tu, Deus, que me pões uma barreira, tu tens que me dar um prêmio, porque eu fiz algo. Aqui está o que eu fiz!”
Na sua oração, pelo contrário, o publicano invoca o título de pecador:
“Deus, sede-me propício, a mim que sou pecador”.
Ora, tendo alegado esse título de pecador, o Evangelho acrescenta: ... este (o publicano) voltou justificado para a sua casa (Lc 18,14).
Quando nós alegamos o título de pecador, somos atendidos.
É engano achar que devemos estar num alto grau de virtude para que nossas orações sejam atendidas por Nosso Senhor. É preciso abandonar essa idéia heterodoxa, se quisermos ter verdadeiro espírito católico.
 Outra frase, também muito interessante, é tirada de uma oração do Profeta Daniel:
Inclinai, meu Deus, o vosso ouvido, e ouvi-me (...) porque nós, prostando-nos por terra diante da vossa face, não fazemos essas deprecações fundadas em alguns merecimentos de nossa justiça, mas sim, na multidão das vossas misericórdias (Dan 9, 18).
Essas palavras, ditas pelo Profeta, não constituem figura de retórica, como quem dissesse: “Vê tudo isto! eu ainda vou pôr mais um enfeite, vou dizer que não tenho nada. Mas, é para mostrar que eu sou humilde e, portanto, não digas que há contrabando na minha mercadoria. Dá-me agora aquilo que tu me prometeste!”
Não se trata disso. A humildade está presente na verdade, e na oração não pode haver mentiras. O Profeta Daniel, realmente, se dirige a Deus em nome do povo judeu, carregado de pecados e prostrado por terra.
Esse povo judeu, prostrado pelo pecado, na condição de pecador, faz uma oração. Ele alega essa condição ao se apresentar ante Deus e é atendido.
É uma oração tirada da Bíblia, inspirada pelo Espírito Santo. Assim, compreendemos quanta confiança também nós devemos ter.
O pior do pecado é o desespero
Há outro trecho, dessa vez tirado de São Mateus: Vinde a mim todos que andais em trabalho e vos achais carregados que eu vos aliviarei (Mt 11, 28).
Segundo São Jerônimo, Santo Agostinho e outros, qual é essa categoria de gente que está em trabalhos?
São os pecadores que têm algum pesar de ter cometido pecado. Esse é o sentido da palavra trabalho, neste contexto. É para esses pecadores que Nosso Senhor disse: “Vinde a mim que Eu vos aliviarei”.
Quanta cordura e quanto amor ao pecador! Quanto desejo de atraí-lo! Que absurdo, que aberração comete o pecador se ele se desespera! O pior do pecado dele não é a falta, é o desespero. Enquanto ele conservar a confiança ele pode voltar, e há torrentes de razão para confiar.
Outra citação, também muito interessante:
Não desejas — diz São João Crisóstomo dirigindo-se ao pecador — tanto a remissão de teus pecados quanto Deus deseja perdoar-te”.
São João Crisóstomo, ao ver um pecador querendo sair do seu pecado lhe diz: “Deus deseja mais que tu te convertas, do que tu mesmo o desejas”.
Compreende-se, portanto, quanta confiança deve ter um pecador quando ele pede sua conversão a Deus. Ele pede uma graça que o próprio Deus deseja mais do que ele. Como não ter toda a confiança?
Importunidade, o principal requisito da oração
Ainda São João Crisóstomo, ao comentar São Mateus, diz:
“Não há o que não obtenhas pela oração, ainda que estejas carregado de mil pecados, contanto que a oração seja instante e contínua” (Hom. 23 in Matth).
Note-se bem que São João Crisóstomo é um dos grandes Doutores da Igreja.
Sua frase condensa o que acima afirmávamos. “Não há o que não obtenhas pela oração”, diz ele. Ou seja, ele inclui tudo. “Ainda que estejas carregado de mil pecados...”, não de um só pecado.
Para se obter o que se pede, a condição será ter firme propósito ou qualquer outra coisa? Não, não é. “Contanto que a oração seja instante e contínua”, não é necessário mais nada.
É preciso ser importuno. A oração obtém tudo na medida em que é insistente, caso contrário não é boa oração. Mais claro não podia ser. Ou as palavras humanas não têm sentido, ou o sentido é esse.

domingo, 15 de maio de 2011

Quando a dor entra em nossa vida, recebemos uma prova do amor de Deus para conosco, pois Ele não pode recusar aos filhos que ama aquilo que deu em abundância a Nosso Senhor e a Nossa Senhora.