domingo, 23 de outubro de 2011

PARA AS ALMAS ÁVIDAS DE FÉ

Katechesis, termo grego, significa instrução pela palavra oral, especialmente pelo sistema de perguntas e respostas. O primeiro catequista da História foi o próprio Jesus, que com frequência usava esse método para instruir: “No dizer do povo, quem é o Filho do Homem? — E vós, quem dizeis que Eu sou?”
Se os escritos do Novo Testamento foram, de algum modo, catecismos, a primeira obra definidamente catequética foi escrita por São Cirilo, no ano 347, num estilo muito claro e lógico. Por volta do ano 400 ficou famoso um tratado redigido por Santo Agostinho, que acabou sendo adotado universalmente. Durante a Idade Média foram elaborados diversos catecismos muito populares, mas era impossível fazer chegar um exemplar a cada família, devido ao alto custo das reproduções.
Essa situação mudou de forma extraordinária com a invenção da imprensa, que levou à publicação de edições em todas as línguas da Europa.
No século XVI surgiu o primeiro catecismo internacionalmente famoso, do jesuíta holandês São Pedro Canísio, visando reparar o dano causado no meio do povo fiel pelos escritos protestantes. Tal foi seu sucesso que “canísio” virou sinónimo de “catecismo”. Pouco depois, o Concílio de Trento viu a necessidade de um manual popular que aplicasse “um remédio salutar” àquela situação. Por incitamento de São Carlos Borromeu foi então publicado o Catecismo Romano, um método “para ensinar os rudimentos da Fé, que sempre gozou de grande autoridade”.
Multiplicaram-se desde então os catecismos, nacionais, regionais ou diocesanos. Por ocasião do Concílio Vaticano I (1869-1870), urgiu-se a redação de um catecismo popular universal. Os países cristãos ocidentais passavam então por grandes transformações, como as enormes ondas de emigrantes que partiam da Europa em várias direções. Sendo único o catecismo, um católico sentir-se-ia em casa tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, na África do Sul ou na Austrália.
Circunstâncias históricas impediram que tal catecismo fosse preparado naquela ocasião. Mas não demorou para ser posto em prática o projeto, de modo bastante inesperado. O Papa São Pio X elaborou um catecismo simples e breve, na clássica forma de perguntas e respostas, expressando o desejo de que fosse adotado em toda a Itália. Contudo, notando sua utilidade, um amplo movimento de clérigos e leigos advogou sua adoção no mundo inteiro, e conseguiu seu intento.
Correram as décadas, e o nosso mundo globalizado passou a exigir um novo catecismo, capaz de afrontar os desafios do momento. Quando o Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985 sugeriu a publicação de um compêndio sobre Fé e Moral, que servisse de ponto de referência para todos os outros catecismos, o saudoso Papa João Paulo II abraçou a ideia e promoveu sua publicação, que veio a lume em 1992.
Faltava responder às necessidades da maioria dos fiéis, pouco habituados aos conceitos teológicos, e imersos na “civilização da imagem” — que não favorece abstrações doutrinárias. Era indispensável um compêndio do catecismo numa linguagem mais acessível. Foi o próprio João Paulo II quem o encomendou ao então Cardeal Ratzinger.
O Papa Bento XVI apresentou esse trabalho quando centenas de milhões de pessoas, católicas e não-católicas, sentem o agravamento da crise geral e voltam seus olhos esperançosos para a Barca de Pedro, à procura de algo firme em que se agarrar.
Ninguém ama o que não conhece. A Igreja colocou, assim, um esplêndido manual de educação religiosa ao alcance das almas ávidas de fé.