quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O esplendor do Templo

Eu moro num palácio de cedro, e a arca de Deus está alojada numa tenda! (2 Sam 7, 2). Com essas palavras, o Rei Davi manifestou seu ardente desejo de oferecer um edifício para Deus. Porém, Davi morreu sem satisfazer seus anseios, e somente seu filho Salomão começou a edificar a casa do Senhor (1 Rs 6, 1).
Terminada a grandiosa construção, realizou-se a primeira liturgia de Dedicação, na qual o Templo foi consagrado ao culto pela deposição da Arca da Aliança no Santuário e a realização de inúmeros sacrifícios. Quando os sacerdotes saíram do lugar santo, a nuvem encheu o Templo do Senhor, de modo tal que os sacerdotes não puderam ali ficar para exercer as funções de seu ministério; porque a glória do Senhor enchia o Templo do Senhor (1 Rs 8, 10-11). Deus manifestava, por esse sinal sensível, o caráter sagrado daquela construção: O Meu nome estará nela (1Rs 8, 29).
Dez séculos depois, naquele mesmo local, Jesus respondia aos Fariseus: Destruí este templo e Eu o reedificarei em três dias. [...] Ora, Ele falava do templo de seu corpo (Jo 2, 19.21). E São Paulo, em sua Epístola aos Coríntios, estende a nós essa comparação: Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é sagrado — e isto sois vós (1 Cor 3, 16-17).
Existe, pois, uma correlação entre o templo material — a Casa de Deus —, o templo vivo que somos nós, enquanto inabitados pela Santíssima Trindade, por meio do Espírito Santo, e o Templo por excelência que é o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, em sua adorabilíssima humanidade.
* * *
O povo eleito, quando perdeu seu primeiro templo, empenhou-se em reconstruí-lo. Do ponto de vista material, o novo edifício não esteve à altura do anterior, mas dele afirmou o profeta Ageu: O esplendor desta casa sobrepujará o da primeira (Ag 2, 9). E, de fato, assim foi, porque nesse segundo templo realizou-se a apresentação do Filho de Deus, pelas mãos de Maria Virgem, como também, trinta anos depois, muitas vezes ali esteve a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnada, para curar os enfermos, perdoar os pecados de muitos e anunciar a chegada do Reino eterno.
Se grande foi o esplendor daquele templo material, marcado pela presença de Jesus, o esplendor dos templos vivos, que são todos e cada um dos cristãos, é ainda maior. Pois nas almas em graça, nas quais habita o Espírito Santo, Jesus se faz eucaristicamente presente, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, sempre que recebem a Comunhão Sacramental.
Por essa razão, o zelo pela santificação nossa e dos demais deve ser muito maior do que o nascido no coração do Rei Davi. Contemplando o triste panorama das almas existentes nos dias atuais, vemos incontáveis batizados lançados pelo demônio num verdadeiro oceano de relativismo moral. São os templos vivos, arrasados pela corrupção de ideias e costumes, que necessitam urgentemente ser reconstruídos com as pedras da santidade, a fim de que a sociedade venha a ser o que ela nunca foi: um só corpo e um só espírito, sob a égide de um só Pastor.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Invencibilidade do Bem

Quem conhecesse Jesus, ao longo de seus trinta anos de vida oculta, depois de ter assistido ao seu nascimento na Gruta de Belém, seria levado a se perguntar por que o filho de Deus escolheu um lugar tão pobre para nascer e condições tão humildes para o desenrolar de sua existência.
Essa interrogação talvez tivesse ainda outros desdobramentos: não poderia Ele, sendo Todo-Poderoso, vir ao mundo manifestando sua glória e majestade, para se fazer adorar por todos os homens? Não seria bem mais fácil que, assim agindo, todos O aceitassem como o Messias prometido?
Entretanto, preferiu a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade revestir-se da fragilidade da condição humana, em vez de externar a sua grandeza inerente, criando assim um sublime paradoxo.
Tudo na vida de Nosso Senhor obedece a desígnios cheios de Sabedoria. Se sua divindade fosse externada de forma inequívoca, revestindo-se de poder e fulgurante pulcritude, não seria necessária a virtude da Fé para nEle acreditar. Bastaria uma simples constatação da inteligência e um pequeno esforço da vontade, da mesma maneira como para o olho humano é suficiente abrir as pálpebras para captar a luz e enxergar tudo quanto está dentro do seu campo de visão.
Sendo sua realeza e divindade reconhecidas por todas as categorias sociais, pelos poderes civis e religiosos, que mérito haveria, para os homens, em nEle crer?
Eis uma das razões pelas quais o Filho de Deus quis Se encarnar em um corpo padecente, sem a transparência de sua natureza incriada e eterna: oferecer ao homem a possibilidade de praticar a Fé.
Apesar disso, nunca esteve a divindade de Nosso Senhor dissociada de sua humanidade. Seria até absurdo pensar num Cristo meramente humano, como fizeram os arianos e outras seitas. Mas, por outro lado, também erraria quem imaginasse ser possível o fracasso definitivo de uma Pessoa que assim assume tão débil natureza, pois à divindade é inerente o triunfo, por mais que as circunstâncias falem em sentido contrário.
A vitória de Jesus manifestar-se-á, sobretudo, no fim dos tempos, quando Ele vier julgar os vivos e os mortos. Mas, também, ao longo da história, torna-se ela patente na invencibilidade da Igreja, decorrente da promessa de Nosso Senhor a São Pedro: “As portas do inferno não prevalecerão contra Ela” (Mt 16, 18).
Qualquer que seja a circunstância histórica, por piores que sejam as perseguições ou as manifestações do ódio de Satanás e do mal contra a Esposa de Cristo, pode-se dizer que Ela será não somente invencível, mas triunfante.