quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Também para nós brilha uma estrela

A história dos Reis Magos é um extraordinário exemplo de correspondência ao chamado de Deus. Viram eles uma estrela rutilante dentro da qual — segundo uma bela tradição — se encontrava um Menino que tinha por trás uma luz mais intensa formando uma Cruz 10 e a seguiram sem hesitação. Esta estrela é um símbolo muito expressivo da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Assim como a luz da estrela guiou os Magos, a Igreja é a luz que cintila incessantemente, sem nunca bruxulear nem diminuir seu fulgor, para guiar os povos rumo ao Reino de Deus. E, ao longo dos tempos, todos quantos se converterem é porque de alguma maneira viram esta estrela e resolveram adorar a Jesus Cristo. Ela continua a brilhar e brilhará até o último dia da História, como prometeu Nosso Senhor: “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).
Somos fiéis ao brilho desta estrela?
Cabe, aqui, uma aplicação pessoal: luziu diante de nossos olhos esta estrela por ocasião do Batismo, quando infundiu Deus em nossa alma um cortejo de virtudes — as teologais: fé, esperança e caridade; e as cardeais: prudência, justiça, temperança e fortaleza, em torno das quais se agrupam todas as outras — e os dons do Espírito Santo, e passamos a participar da natureza divina. Pertencemos ao Corpo Místico de Cristo e o Céu se abre diante de nós. Tornou-se mais resplandecente esta estrela no dia de nossa Primeira Comunhão, ao recebermos o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo glorioso, para Ele nos assumir e santificar. A todo instante ela nos convida à santidade, a rejeitar nossas más tendências e a estar totalmente prontos para ouvir a voz da graça que diz em nosso interior “Vem, segue-me!”, e nos chama a sermos generosos, de forma a cada um de nós também constituir para os outros uma estrela, atraindo-os para a Igreja.
Se, por miséria ou por provação, perdermos de vista esta luz, precisamos ir a Jerusalém, ou seja, à Santa Igreja, a qual, em seus templos sagrados, se mantém sempre à nossa espera para nos indicar onde está Jesus. Ali haverá um sacerdote, estará exposto o Santíssimo Sacramento ou se encontrará uma imagem piedosa, instrumentos para reacender a estrela existente em nosso coração.
Incumbe-nos, ademais, tomar cuidado com o “Herodes” instalado dentro de nós: nosso orgulho, nosso materialismo, nosso egoísmo. Ele almeja apagar esta estrela, pelo pecado mortal, e colocar-nos nas vias dos prazeres ilícitos; quer levar-nos a matar Jesus Cristo que está em nossa alma como um luzeiro cintilante. Seremos do mundo e do demônio se tivermos uma vida dupla, limitando-nos a frequentar a igreja aos domingos e comportando-nos, depois, como se desconhecêssemos a estrela. Devemos, portanto, estar sempre junto a Nosso Senhor, oferecendo-Lhe o ouro do nosso amor, o incenso da nossa adoração e a mirra das nossas misérias e contingências, pedindo constantemente o auxílio de sua graça.

Compreendamos, nesta Solenidade da Epifania, que os Magos nos dão o exemplo de como alcançar a plena felicidade. Com os olhos fixos em Maria, imploremos: “Minha Mãe, vede como sou fraco, inconstante, miserável, e quanto preciso, ó Mãe, da vossa súplica e da vossa proteção. Acolhei-me, minha Mãe, eu me entrego em vossas mãos para que Vós me entregueis a vosso Filho”. E dirigindo-nos a São José, digamos: “Meu Patriarca, senhor meu, aqui estou, tende pena de mim, ajudai-me a pedir a vossa esposa, Maria Santíssima, para Ela ter sempre os olhos postos em mim”. Roguemos aos Reis Magos que intercedam junto ao Santo Casal e ao Menino Jesus, para nos obter a graça de não procurarmos luzes mentirosas, mas seguirmos a verdadeira estrela, ou seja, a da prática da virtude e do horror ao pecado. 
1 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.36, a.5, ad 4.
Texto extraído dos comentários de Mons João Clá Dias ao Evangelho- Solenidade da Epifania - Revista Arautos do Evangelho - Jan 2016