sábado, 17 de março de 2012

O futuro da Igreja

“Eu sozinho não posso suportar todo esse povo; ele é pesado demais para mim” — queixou-se Moisés ao Senhor. E concluiu aflito: “Em lugar de tratar-me assim, rogo-Vos que antes me façais morrer, se achei agrado a vossos olhos, a fim de que eu não veja a minha infelicidade!” Apiedando-se dele, Deus lhe respondeu: “Junta-me setenta homens entre os anciãos de Israel, que sabes serem os anciãos do povo e tenham autoridade sobre ele. Conduze-os à tenda de reunião, onde estarão contigo. Então descerei e ali falarei contigo. Tomarei do espírito que está em ti e o derramarei sobre eles, para que possam levar contigo a carga do povo e não estejas mais sozinho” (Nm 11, 14-17).

Esses anciãos auxiliares de Moisés foram citados durante vários séculos nos documentos eclesiásticos para ilustrar a função dos Cardeais em torno do Papa: ajudá-lo na condução da Igreja.

A instituição cardinalícia é resultado de um longo processo, cujas raízes se encontram já no século II da Era Cristã. Roma era dividida em “paróquias”, ou “tituli”. O primeiro presbítero de cada “título” era conhecido como o principal, ou “cardeal”. O mesmo ocorria com os diáconos que administravam as regiões encarregadas do cuidado dos pobres. Um documento de 499 traz a assinatura de 28 cardeais, presentes no Concílio de Roma. Com o crescimento dos encargos papais, os Pontífices chamaram os bispos das cidades vizinhas para auxiliá-lo. Aí está a origem dos cardeais-bispos. A primeira diocese cardinalícia foi a de Albano, em 680.

Os cardeais foram recebendo encargos cada vez maiores, e passaram a se reunir semanalmente com o Papa — nos consistórios — para tomar decisões a propósito de administração e finanças, criação e supressão de dioceses, problemas dogmáticos e questões de disciplina, entre outros. Sua importância cresceu ainda após o decreto “In nomine Domini”, de Nicolau II, em 1059, que regulamentava as eleições papais, instituindo-os como os únicos eleitores.

Refletindo a universalidade da Igreja, lentamente ocorreu uma internacionalização do Colégio cardinalício, tendência que ganhou força com São Gregório VII (1073-1085).

A pari passu com o desenvolvimento do cardinalato, a Igreja foi instituindo os organismos que hoje compõem o belo tecido eclesial. Tudo nasceu como em família, e foi adquirindo santidade, solidez jurídica e doutrinária, dando-lhe o vigor, não de uma instituição que não morre, nem mesmo chega à agonia, mas rejuvenesce sempre.