quarta-feira, 9 de julho de 2014

A palavra: seu poder

Assim como a presença de Nosso Senhor na Terra é multiplicada ao longo dos tempos pelo Sacramento do Altar, a sua Palavra é propagada pelos lábios dos sacerdotes. E a ambos — Eucaristia e Palavra — devemos dar o mesmo tratamento, conforme ensina Santo Agostinho com sua inquestionável autoridade.
Por isso Jesus, que dá aos seus ministros o poder de promover a transubstanciação, também lhes dá o de encontrar a palavra exata em benefício das almas. Com efeito, quantas angústias mitigadas, quantos furores apaziguados, quantas dúvidas de consciência resolvidas nos sigilos dos corações, quando Deus fala através de seus sacerdotes! Nisso temos um direito fundamental e sagrado do fiel: o acesso à palavra vivificante do sacerdote.
Quando uma palavra procede do conhecimento humano, fruto do estudo, da observação ou da elucubração, tem alguma utilidade? Sim, sem dúvida. A palavra de um literato, de um historiador ou de um filósofo, pode ser muito interessante e até formativa. Mas não se compara às palavras proferidas por Nosso Senhor, que “são espírito e vida” (Jo 6, 63).
Multiplicadas pelos seus ministros, penetram elas a fundo nas almas. Mas, para isso, devem vir robustecidas pelo exemplo de vida do pregador, e por sua convicção de que tudo depende da ação da graça divina. Elas, assim, se tornarão fecundas. Pois a palavra vivificada pelo Espírito nunca é proferida sem produzir os seus efeitos.
Quantos e quantos exemplos a história da Igreja nos legou de pregadores que, convencidos desse poder de que é dotada a sua palavra, obtiveram grandes feitos: é um São Remígio que converte o rei Clóvis e, com este, toda a nação dos francos, iniciando a edificação da Europa católica; é um São João de Capistrano que lidera os cristãos na defesa vitoriosa de Belgrado, conseguindo salvar todo o continente; é um Beato José de Anchieta que pacifica milhares de indígenas em torno da jovem colônia portuguesa no Brasil, lançando as bases dessa nação.
Mas, quiçá mais impressionante que essas façanhas históricas sejam as conversões ocorridas durante a rotineira homilia da Missa dominical, ou por ocasião de conselhos no Sacramento da Reconciliação, ou ainda numa pregação de retiro, por exemplo. São verdadeiros milagres espirituais ocorridos diariamente em todo o mundo, aberturas de alma para a voz da graça as quais muitas vezes permanecem envoltas na discrição, sem conhecimento sequer do sacerdote.

A palavra pode, pois, converter e edificar, aplainar e estimular ao bem. Trata-se de o sacerdote se compenetrar desse poder que lhe vem de Nosso Senhor.