segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Evangelizar através da beleza

Os impressionantes avanços técnicos e científicos do século XX transformaram a fundo a vida quotidiana do homem. Graças a eles tornou-se possível executar sem esforço tarefas até então insuspeitadas. Mas essa praticidade acabou por conferir, de outro lado, uma simplificação em todos os atos sociais.
As cerimoniosas manifestações de respeito, por exemplo, foram paulatinamente substituídas por maneiras cada vez mais informais. No mesmo sentido, qualquer ornato passou a ser considerado desnecessário por não ser prático. E no intuito de procurar a funcionalidade em tudo, acabou-se por se distanciar do que é transcendente ou sobrenatural.
Nessa conjuntura, não faltaram vozes que alertaram ter o mundo moderno quase exilado a beleza do dia a dia. Entre elas, a do Papa Paulo VI que, por ocasião do encerramento do Concílio Vaticano II, lançou na Mensagem aos Artistas este apelo: “O mundo no qual vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero.”
Sente-se o homem órfão do belo. Sua alma busca valores perenes que reportem às verdades transcendentes. Porque “assim como a corça suspira pelas águas vivas” (Sl 41, 2), o ser humano tem sede de Deus, Beleza absoluta e eterna.
Para saciar esse legítimo anseio, dispõe a Igreja de um inestimável instrumento: a Liturgia. Se a ilibada doutrina católica ilumina e orienta a humanidade há dois mil anos, talvez tenha chegado o momento de atingir, sobretudo pela beleza expressa nos ritos, as gerações pós-modernas tão avessas a estudos teóricos.
Não estará reservado para a presente quadra histórica o recurso àquilo que São Tomás denomina convertio ad phantasmata? Haverá, em última análise, hoje em dia, outro meio mais idôneo de evangelizar?
A Liturgia, devidamente executada e apresentada, é mais eficaz na evangelização do que qualquer documento escrito, porque atinge todas as pessoas, independente de cultura, idade ou idioma. Nela, o belo se manifesta e fala por si. Sem necessidade de raciocínios, eleva a alma diretamente ao sagrado, abrangendo todos os sentidos do homem.
Com efeito, qual a razão de os paramentos litúrgicos terem sido, em todos os tempos, elaborados com os mais requintados tecidos ricamente bordados? Por que a Esposa de Cristo destilou delicados incensos para representar nossa oração subindo ao Pai? E para que os sinos e o órgão, veneráveis vozes da Santa Igreja, senão para melhor nos elevar às realidades celestes? E a beleza e riqueza dos templos e dos objetos utilizados no culto?
A solenidade, a pompa e o esplendor da Liturgia criam um ambiente atemporal que liga o passado ao presente, o visível ao invisível, o terreno ao celestial, enfim, a criatura ao Criador.

Realmente, como bem lembrou São João Paulo II, nunca como hoje se pode dizer tão a propósito que a beleza salvará o mundo!