sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Divina visita

Metáfora de Dr. Plinio Correa de Oliveira ensinando-nos a bem nos prepararmos para a Sagrada Comunhão.

Imaginemos que, de repente, parasse diante de nossa casa um magnífico Rolls-Royce, e dele descesse um ajudante de campo, esplendidamente fardado, tocasse a campainha e anunciasse a chegada da Rainha da Inglaterra, dizendo:
— Aqui mora fulano de tal?
A criada que o atendesse diria surpresa:
— Sim, é aqui que ele mora.
— Então abra as portas porque Sua Graciosa Majestade, a Rainha Elisabeth II, veio fazer-lhe uma visita a fim de demonstrar toda a estima que tem por ele, e aqui permanecerá por dez minutos.
Imediatamente se abririam as portas, e nós não saberíamos o que fazer para agradecer à rainha que estaria honrando nossa casa com sua presença.
Mais ainda do que honrar a casa, ela nos estaria beneficiando com o seu convívio: quando se trata de um visitante tão especial, algo de sua nobreza,nde sua excelência, de seu talento é transmitido ao visitado.
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Pois bem, haveria algum propósito, ao cabo de dez minutos, nós dizermos à rainha: “Majestade, me desculpe, mas esta conversa está demasiado cansativa. Precisaríamos encerrá-la.”?
Pelo contrário, ficasse a rainha o tempo que quisesse, multiplicaríamos nossos esforços para conseguir que ela permanecesse onze minutos em vez de dez; e, caso conseguíssemos, pensaríamos: “Está vendo? Ela iria ficar aqui por dez minutos, mas porque eu sou simpático ficou onze.”
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Ora, quando na Sagrada Eucaristia, Jesus penetra em nós, dá-se um convívio infinitamente mais intenso do que aquele da visita feita pela Rainha da Inglaterra.
Na Sagrada Comunhão, Nosso Senhor Jesus Cristo visita nossa alma intimamente; não se trata de algo externo ao nosso ser — como visitar nossa casa —, mas sim, de algo interno: Ele entra em nós.
Poderíamos, após esta visita de Nosso Senhor, estar contando os minutos para encerrar nossa ação de graças?
Pelo contrário, devemos fazer uma compenetrada ação de graças após a Comunhão; e para isso é indispensável que para ela nos preparemos bem, adequadamente, tendo bem presente o ato maravilhoso e grandioso que vai se dar.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Infalibilidade: um dom de Deus à Igreja

É admirável, no universo, a perfeição dos instintos dos seres vivos. Por exemplo, a precisão com a qual as plantas penetram suas raízes na terra, em busca de minerais, e as fortalecem de forma a sustentar o todo de sua constituição. Em condições normais, nunca acontece de uma árvore deixar, por algum equívoco da natureza, um de seus ramos crescer de forma desordenada, desequilibrando todo o conjunto. Algumas espécies encantam nosso olhar pela beleza e harmonia com que seus galhos se distribuem, em impecável simetria, ao longo do tronco. Sem o concurso de jardineiro, elas se desenvolvem segundo as características próprias, suprindo “instintivamente” as necessidades de sua vida vegetal.
Mas, se nos detivermos no mundo animal, essa maravilhosa exatidão se torna ainda mais patente. Todo ser animado procura de modo ordenado sua subsistência e reprodução. Como explicar o excelente senso de orientação que leva certas aves a percorrerem longas distâncias, às vezes cruzando mares, sem errar o destino? Alguns animais, como o esquilo, já no verão prevêem com segurança a intensidade dos rigores do próximo inverno e fazem suas reservas de acordo com o frio a enfrentar. Tanto é assim que, na América do Norte presta-se atenção neles para saber se duro ou suave será o inverno.
Assim o homem, embora seja o rei da criação, observa o comportamento dos animais para suprir algumas insuficiências dos instintos de sua natureza.
Poder-se-ia perguntar se Deus — no que toca aos instintos — não teria criado o homem inferior aos animais.
Mesmo depois do pecado original, a alma humana sai das mãos de Deus com os princípios sinderéticos em perfeita ordem. Os transcendentais: o bem, o belo, a verdade e o “unum”, lhe são inatos. Por isso, explicanos S. Tomás de Aquino (cf. Suma Teológica, II-II, q. 109, a. 3) que o homem não pecando, ao manter-se na sua inocência, tem a posse da verdade. Nossa inerrância depende da prática do amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. O erro se introduz em nossas almas a partir da perda dessa união com Deus; daí observarmos como se multiplicaram ao longo da História filosofias as mais díspares e absurdas, quando, afinal, a Verdade é uma só.
Apavora-nos imaginar o que seria de nós se não houvesse uma cátedra infalível da Verdade, na qual pudéssemos ancorar os nossos pensamentos e decisões. O Filho de Deus encarnado, conhecedor das deficiências intelectuais e volitivas da natureza humana, edificou um farol nesta terra, no âmago de sua Igreja, com a missão de continuamente orientar seus filhos rumo à Verdade: o Papado.
Ao constituir Pedro como fundamento de sua Igreja, Nosso Senhor Jesus Cristo selou seu gesto com uma promessa: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). Conferia-lhe, assim, o carisma da infalibilidade, para que a Igreja, guiada por Pedro e seus sucessores, nunca possa se desviar da Verdade. E isto vale mais do que todos os instintos da natureza.