terça-feira, 20 de agosto de 2013

Quem precisa do Médico?

Enorme sensação haveria no mundo, se alguém demonstrasse que as técnicas de filmagem já existiam nos tempos evangélicos. E ainda maior seria o pasmo se tal afirmação fosse corroborada por uma descoberta inaudita: filmes autênticos da vida de Jesus.
O maravilhoso achado produziria um encanto indescritível, mas também… algumas surpresas.
Com efeito, quem se habituou a considerar a figura do Salvador segundo preconceitos arraigados e visualizações unilaterais, sentir-se-ia talvez desconcertado. E assim poderia exprimir uma de suas objeções:
— Mas que público heterogêneo, verdadeiro universo de classes e raças desfila diante d’Ele para ser beneficiado! Agora, por exemplo, depois de curar um infeliz leproso, Ele se detém para ouvir com solicitude o pedido de um oficial romano, símbolo vivo da lei do mais forte, e, além disso, endinheirado! E, o que faz Ele naquela nobre mansão, participando de um funeral de luxo? Ah! É a morada de um importante personagem, onde Ele vai ressuscitar a menina que acaba de morrer. Está bem, mas… por que vai então repousar nessa outra sala, tão fina e arranjada? De novo, é uma casa de ricos! Bom! Vai jantar com três irmãos, família conhecida e muito visitada, que o recebe com especial afeto, é verdade. Mas uma das irmãs enlouqueceu de repente! Esbanja dinheiro com perfumes, apenas para agradá-Lo, e Ele ainda toma a defesa da desvairada! Oh! E eu que imaginava Jesus cercado só de maltrapilhos, protetor somente dos mendigos, advogado apenas dos marginalizados...
— E a túnica d’Ele? Inconsútil, de primeira categoria! Chama a atenção até de ignorantes, como os legionários de Pilatos! Não poderia Ele apresentar-Se com mais simplicidade?
— O que dizer de suas parábolas? Nenhuma classe se encontra nelas especialmente contemplada, nem pobres nem ricos, nobres ou plebeus. Vemos reis partindo para a guerra, pastores, vinhateiros, donas de casa, miliardários que pagam seus empregados de modo exagerado ou lhes perdoam dívidas astronômicas, monarcas que organizam festas de casamentos, potentados no inferno, virgens loucas ou previdentes…
Assim, quantas outras surpresas causaria esse hipotético filme da vida de nosso Salvador! Entretanto, os Evangelhos narram pormenorizadamente todos esses episódios, que revelam de modo insofismável a universalidade da ação santificadora de Jesus. Se tivéssemos a imensa felicidade de presenciá-los, apenas uma atitude seria aceitável e digna de verdadeiros seguidores d’Ele: cair de joelhos aos seus pés e exclamar, transidos de amor e adoração:
— Senhor, bem dissestes que “os sãos não precisam de médico, mas os enfermos” (Mc 2, 17). Enfermos de espírito existem em todas as classes e todos os meios. Quem poderia declarar-se saudável diante de Vós? Apenas vossa Mãe Santíssima, pois quisestes adorná-La com todas as plenitudes da inocência e da santidade. Mas todos os demais imploram vossos remédios, divino Médico das almas. E quem ousaria desprezar os pobres e pequenos, amados por Vós com tanta ternura? Quem se atreveria a excluir os ricos e condená-los como maus, se também a eles oferecestes vosso carinho? Não haja mais fronteiras para a caridade entre uns e outros! Tenham os ricos a alegria e a generosidade sempre renovada de ajudar os pobres, e recebam estes o consolo incansável daqueles. Queremos imitar-Vos, Senhor, em vosso zelo universal e em vosso amor sem fronteiras.

Extraído da Revista Arautos do Evangelho – agosto 2013