sábado, 31 de março de 2012

A caridade é o pleno cumprimento da Lei


Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas!”

Sete vezes invectiva Jesus a perfídia dos fariseus, com palavras severas e contundentes, no capítulo 23 de São Mateus, contrastando com sua habitual bondade e mansidão para com os publicanos, os pecadores arrependidos e os pequeninos.

A que se deve tão surpreendente atitude de Quem, no alto da Cruz, perdoou aos que O matavam e a um dos ladrões que com Ele morria? À falta de caridade para com o próximo e ao fato de quererem eles, escribas e fariseus, fazer consistir a religião no cumprimento de ritos externos, esquecendo o mais importante, ou seja, o amor a Deus e o amor ao próximo por amor de Deus: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e desprezais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade” (Mt 23, 23).

Esse desprezo de tal forma distorcia a essência da Lei que chegava até ao absurdo. Em certa ocasião, num sábado, os fariseus reunidos na sinagoga perguntaram a Jesus: “Será permitido curar no dia de sábado?” (Mt 12, 10). Respondeu Ele: “É lícito praticar o bem no dia de sábado” (Mt 12, 12). E logo em seguida curou um homem que tinha a mão ressequida. Em vez de tal milagre suscitar admiração, causou a reação contrária, por acharem ter sido violado o sábado, no qual era proibido trabalhar: “Os fariseus, saindo, reuniram-se em conselho contra Ele, para matá-Lo” (Mt 12, 14), não se perturbando sua consciência com essa atitude, a qual infringia abertamente o quinto Mandamento, que proíbe matar.

Essa cegueira de alma tão difundida entre os fariseus, e que causa tanto horror, se devia a não terem eles verdadeiro amor de Deus e não cumprirem com retidão de alma o primeiro Mandamento da Lei. Por isso, não eram capazes de ver no próximo a “imagem e semelhança” de Deus (Gn 1, 26).

Foi preciso que o Filho de Deus Se encarnasse e morresse na Cruz, fazendo nascer de seu Lado transpassado por uma lança a Santa Igreja, para que os homens, com auxílio da graça divina, pudessem praticar verdadeiramente a caridade.

Mas o risco de sobrevalorizar as exterioridades não é exclusividade dos fariseus, o que leva São Paulo a advertir com veemência os cristãos de seu tempo: “Ainda que distribua todos os meus bens em esmolas, e entregue o meu corpo a fim de ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita” (1 Cor 13, 3). Pois até mesmo no exercício da caridade para com o próximo, pode faltar a caridade para com Deus, tornando estéreis em méritos as melhores ações. Ao praticar essa virtude, na qual se resume toda a Lei, tenhamos sempre gravadas a fogo no coração o Mandamento Novo: “Que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei” (Jo 15, 12).

terça-feira, 27 de março de 2012

A DOR E O AMOR A DEUS

Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Fazendo eco a essas palavras de São Paulo na primeira Epístola aos coríntios, a liturgia da Semana Santa se refere à Paixão do Senhor, proclamando que os tormentos por Ele sofridos transformaram-se em glória e esplendor. Ao triunfar sobre a morte e o pecado, Cristo Jesus comprou nossa salvação, abrindo-nos de par em par as portas do Céu.

Foi esse, entretanto, o único objetivo do Salvador com seu supremo martírio? Não. Além de reparar as ofensas feitas ao Pai pelos pecados cometidos por suas criaturas humanas, e de redimi-las, quis Jesus nos ensinar um novo caminho de amor a Deus: o oferecimento irrestrito das próprias dores, chegando até ao sacrifício da própria vida.

Após o pecado original, afirma São Tomás, estabeleceuse na alma humana a necessidade do sofrimento para facilitar- lhe a aceitação de seu estado de contingência e, assim, ser levada a recorrer ao auxílio sobrenatural. Esta é a razão pela qual muitos autores católicos têm comparado a dor a uma espécie de oitavo sacramento. Sem esse poderoso meio, acentuar-se-ia no homem a tendência de fechar-se sobre si mesmo e constituir-se em centro do universo.

A dor o obriga a juntar as mãos em atitude de oração e a implorar a proteção de Deus e dos santos. Jesus, ao submeter-se a dores atrozes, físicas e morais, deu-nos o exemplo e a lição de quanto a dor é eficaz para conquistarmos a vida eterna. Visto na perspectiva da Cruz de Cristo, o sofrimento é suportado com paz e serenidade e se torna insubstituível instrumento de conversão e progresso espiritual.

A Semana Santa nos traz excelente ocasião para refletirmos a respeito dos benefícios da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aproveitemos para pedir a nosso Redentor, por intercessão de Nossa Senhora das Dores, que os méritos do seu preciosíssimo sangue derramado desçam sobre nós, de modo que, ao enfrentarmos nossas dores quotidianas, tenhamos as mesmas forças com que Ele enfrentou as dores da Paixão.