quinta-feira, 23 de abril de 2009

O gótico e o Céu Empíreo








Impossível é, nesta terra de exílio, imaginar as maravilhas do Céu Empíreo, reservadas por Deus como prêmio para os homens. Pois como afirma São Paulo: " Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam"( I Cor 2,9).


Contudo, alguns santos tiveram o privilégio de , sobrenaturalmente, entrever o lugar de felicidade onde se gozam todas as alegrias, tanto espirituais como materiais.


São João Evangelista, arrebatado por uma visão profética, descreve no Apocalipse essa Jerusalém Celeste, com os seus fundamentos de safira e esmeralda, os seus muros e pavimentos de jade e topázio, as suas colunas de cristal encastradas em puro ouro(cf.Ap, 21).


São João Bosco, que visitara o Céu Empíreo em um dos seus místicos "sonhos", assim o apresenta a seus jovens alunos: " As colunas daquelas casas pareciam de ouro, de cristal e de diamante, de forma que produziam uma agradável impressão, saciavam a vista e infundiam um gozo extraordinário. Era um espetáculo encantador."


Chama a atenção o fato de ser representativo nessas visões o Paraíso Celeste como uma bela cidade constituída por esplendorosas construções. Não se trata, entretanto, de uma mera metáfora.

O homem, na eternidade, não precisa de prédios para se abrigar das intempéries, mas continuam-lhe sendo necessárias habitações adequadas, nas quais o corpo e a alma se sintam bem acolhidos e encontrem as condições apropriadas para o convívio com seus semelhantes. Para atender a esse anseio, Deus provê para os bem-aventurados uma mansão celestial inimaginável e magnífica, em harmonia com a visão beatífica de que gozam suas almas.



Ora, quando no Pai Nosso rezamos " venha a nós o Vosso Reino", pedimos que tudo neste mundo- da natureza à arte, do pensamento à técnica, da oração às formas de governo - se aproxime quanto possível do padrão de sublimidade que existe no Céu. No campo da arquitetura, isto significa pedir que essas celestiais moradas- realizadas, sem dúvida, em estilo sui generis e inédito - possam vir a ser de alguma forma refletidas nos edifícios da Terra.



Resplandecente de luz e ornada de pedras preciosas, a Jerusalém Eterna foi o ideal esplêndido para o qual tenderam os arquitetos do medievo, em seu afã de edificar neste vale de lágrimas algo análogo.





Por isso, o gótico, com as suas ogivas e agulhas que apontam para o alto, e , sobretudo, com os seus multicoloridos vitrais e o variado jogo de luzes e sombras, proporciona aos homens um mítico e sobrenatural ambiente, ponto de referência para, através da Fé, contemplar as belezas que lhes aguardam na visão beatífica.


Em sua Carta aos Artistas, o servo de Deus João Paulo II observa que " a força e a simplicidade do românico" desenvolveu-se gradualmente "nas ogivas e esplendores do Gótico". E logo a seguir afirma: " Onde o pensamento teológico realizava a Summa de São Tomás, a arte das igrejas submetia a matéria à adoração do mistério".


Se, aos Anjos, Deus incumbisse de levantar grandiosos templos na Terra, escolheriam eles um estilo diferente?

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