Nosso Senhor Jesus Cristo não só afirmou em várias ocasiões sua divindade — “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30) —, como também a confirmou por meio de portentosos milagres.
Nenhum mal resistia a suas ordens, quer fosse a febre ou a paralisia, a surdez ou a mudez, a cegueira ou a lepra, e até mesmo a morte, pois Ele ressuscitou o filho da viúva de Naim, a filha de Jairo e Lázaro. Seu domínio se estendia sobre os seres minerais, vegetais e animais: a seu comando, a tempestade se amainou no Mar da Galiléia, a água se transformou em vinho, pães e peixes se multiplicaram. Mais ainda, os demônios se submeteram prontamente, como nos casos dos possessos de Gerasa e de Cafarnaum. E todas as suas profecias se cumpriram: a traição de Judas, as três negações de Pedro, a Paixão, a destruição de Jerusalém, as perseguições sofridas pelos Apóstolos. Por fim, seu poder se manifesta com todo o esplendor em sua própria Ressurreição.
Com esse domínio divino sobre toda a Criação, Jesus teria podido facilmente conceder uma irresistível graça de santificação aos homens, assim como livrá-los de tentações e más inclinações. Afinal, é ardente seu desejo de que todos se salvem, a ponto de ter entregado sua própria vida com essa finalidade.
Mas, então, por que Ele não agiu assim?
Em sua infinita sabedoria, Nosso Senhor deseja que as almas se abram para Ele por puro amor, deixando-se trabalhar por sua graça. Coloca os homens no estado de prova, a fim de adquirirem méritos, fazendo bom uso do livre arbítrio.
Não é fácil a batalha pela virtude. Deus conhece nossas debilidades muito melhor do que nós mesmos, Ele que “sonda os rins, e penetra até o fundo do coração” (Sb 1,6). Sabe quão árduo é o esforço para andar no caminho reto, e ampara quem é provado por permissão divina. Visando ajudar a humanidade a salvar-se, deu-lhe preciosos recursos como os Sacramentos, entre os quais se destacam a Eucaristia e a Reconciliação, a Liturgia, com suas diversas cerimônias, e o ensinamento infalível do Papa.
Suscitou também pessoas virtuosas, cujos exemplos enlevam e arrastam. Um Paulo de Tarso fez a Igreja nascente se multiplicar pela orla do Mediterrâneo; um Francisco de Assis e um Domingos de Gusmão conseguiram deter a crise espiritual que ameaçava o mundo cristão no século XIII; um Pedro Canísio resgatou para a Igreja vastas áreas perdidas por ela no mundo germânico. Pessoas não brilhantes de inteligência, como João Maria Vianney ou José de Cupertino, foram pontos de referência em seus dias. Teresa de Ávila cativou a Espanha, Hildegarda de Bingen e Catarina de Siena foram conselheiras até dos grandes deste mundo. Bernon, Odon, Maïeul, Odilon e Hugo — os cinco abades santos de Cluny — exerceram uma tal força de atração sobre as multidões e as elites, que sua Ordem moldou a Europa católica na Idade Média.
Tudo isso, sem usar nenhum meio violento, nenhuma coerção, sem riquezas nem manobras políticas, e sem truques publicitários. Mas pura e simplesmente pela suave e irresistível força da santidade.
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