Transcorridos
40 dias da Noite Santa, ao ser Jesus levado para a apresentação no Templo,
Simeão tomou-O nos braços, exclamando: “Eis que este Menino está destinado a
ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel. Ele será
um sinal de contradição” (Lc 2, 34).
Exímio
na virtude da esperança, o profeta alcançara avançada idade ansiando por aquele
momento. Seu coração exultava ao ver diante de si a Luz enviada para iluminar
as nações (cf. Lc 2, 32-33). Entretanto, em seguida ele se volta para a Mãe,
dizendo-lhe: “Uma espada traspassará a tua alma e assim serão revelados os
pensamentos de muitos corações” (Lc 2, 34).
Jesus
há de ser, com efeito, o Sinal de Contradição, porque em face do Verbo
encarnado ninguém pode permanecer neutro: é na aceitação ou rejeição de sua
Pessoa que os homens vão selar seu destino eterno.
E
os acontecimentos na Palestina em breve confirmariam a profecia de Simeão: a
sangrenta e cruel matança dos Santos Inocentes, a mando de Herodes, obrigando a
Sagrada Família a fugir para o Egito, onde os ídolos pagãos caíram por terra à
chegada do verdadeiro Deus.
Como
entender, então, o anúncio de “paz na Terra” feito aos pastores pelos Anjos?
Anúncio, aliás, que incluía uma restrição muitas vezes esquecida ou não levada
na devida conta: “aos homens amados por Deus” (Lc 2, 14). Não se trata,
portanto, de promessa de uma paz incondicional.
A
explicação para esse paradoxo encontramo-la no prólogo do Evangelho de São
João. Jesus “era a Luz verdadeira que a todos ilumina. Ela estava no mundo e o
mundo foi feito por meio d’Ela, mas o mundo não a reconheceu. Ela veio para o
que era seu, mas os seus não A acolheram” (Jo 1, 9-11).
A
oposição entre os filhos das trevas e os discípulos do Divino Mestre se verificará
ao longo da História, dando origem a perseguições, lutas e martírios padecidos
pelos que acolherem a Luz. Pois se, de um lado, foi prometida a paz aos amados
por Deus, de outro, devem estes estar dispostos a enfrentar contrariedades pela
fidelidade ao Verbo encarnado. Porque a verdadeira paz é a tranquilidade da
ordem e não uma harmonia aparente sob a qual pode se disfarçar o pecado.
Nessa
perspectiva, os sinos que proclamam neste Natal o nascimento do Menino Jesus
bem podem ser aqueles que anunciam o advento de um Rei de Contradição. Que
graças o Divino Infante reserva hoje para a humanidade? Haverá em breve um
tempo de harmonia e de paz? Ou virá um período de guerras e de perseguições aos
que acolherem a Luz? Seja o que for, tudo o que vier da parte de Deus será para
o nosso bem e nossa santificação. E a nossa esperança, como a de Simeão, não
deve repousar nos fugazes tesouros desta terra, mas sim nos do Céu!
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