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quarta-feira, 26 de abril de 2017

Comentários Mons João Clá Dias

A consagração a Nossa Senhora é um ponto auge de nossa vida espiritual.
Por isso é importante fazer uma muito boa preparação para a Consagração a Nossa Senhora. Essa consagração tem de ser um ato solene na vida da pessoa. É aconselhável até fazer um retiro, curto que seja, para preparar-se, pois é um ato muito sério.

Mons João Clá Dias

domingo, 29 de janeiro de 2017

Devemos ser sal e luz

O discípulo, para ser sal e para ser luz, deve ser um reflexo fiel do Absoluto, que é Deus, e, portanto, nunca ceder ao relativismo, vivendo na incoerência de ser chamado a representar a verdade e fazê-lo de forma ambígua e vacilante. Procedendo desta maneira, nosso testemunho de nada vale e nos tornamos sal que só serve “para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”. Quem convence é o discípulo íntegro que reflete em sua vida a luz trazida pelo Salvador dos homens.
Mons João Clá Dias - O inédito sobre os Evangelhos v.II

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Um chamado para todos os séculos

Como católicos, devemos buscar a edificação de uma sociedade conforme aos preceitos evangélicos e, para isso, cabe-nos a responsabilidade de atrair as almas dispersas no mar revolto do mundo moderno e levá-las à barca de Pedro.
Não obstante, não poucas serão as dificuldades para exercer tão elevada função, sobretudo quando nos deparamos com nossas próprias insuficiências e falhas. Diante dessa desproporção, avançar e lançar as redes se afigura como algo impossível. O que nos é necessário para corresponder a uma missão tão superior às nossas capacidades? É o próprio Mestre quem nos responde, pela pena de São Paulo: “Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força” (II Cor 12, 9).
Portanto, quanto mais nos sentirmos incapazes de cumprir a vocação à qual Deus nos chama, maior deve ser nossa confiança no poder da voz que nos convoca. É vendo uma atitude de humildade cheia de fé que Nosso Senhor opera a pesca milagrosa, deixando patente que os bons resultados não dependem das qualidades nem dos esforços humanos. Ele confunde os fortes deste mundo e conduz os fracos à realização de obras grandiosas (cf. I Cor 1, 27).
Sejamos generosos e confiantes, pois também em nossas vidas Cristo apareceu ordenando: “Duc in altum! Eu os quero como instrumentos para renovar a face da Terra! Não tenham medo, pois Eu mesmo lhes darei as forças para a obtenção de um glorioso resultado!”

Mons João Clá Dias – Texto extraído O Inédito sobre os Evangelhos vol VI

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Frase - Mons João Clá Dias



Estejamos sempre atentos e desejosos de fazer o bem para os outros. E quando nós o fazemos, desce sobre nós uma graça maior do que sobre os outros. Porque quem dá recebe mais do quem recebe.

sábado, 27 de agosto de 2016

Os apegos desordenados

“Quem não carrega sua cruz e não Me segue, não pode ser Meu discípulo”. Não significa isso que precisamos ser flagelados, coroados de espinhos ou pregados na cruz, como foi Nosso Senhor Jesus Cristo. A cruz que Ele pede de nós consiste principalmente em vivermos desprendidos de tudo quanto é terreno, tal qual uma águia que voa sem amarras para, nas alturas, melhor contemplar o Sol.
Como tantas vezes comprovamos na vida, o apego desordenado gera aflições, inseguranças e receios que nos roubam a paz de alma. Portanto, mesmo o homem não chamado à vida religiosa deve fazer tudo com o coração posto nas coisas de Deus, inclusive ao cuidar dos negócios e da administração dos seus bens. Esse desprendimento é condição para seguir de perto a Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim agindo, a alma experimentará a verdadeira felicidade, prenunciativa da alegria que terá no Céu.

Mons João Clá Dias

domingo, 12 de junho de 2016

Devoção a Nossa Senhora

Quem é realmente devoto de Nossa Senhora tem sua salvação garantida. Ela não vai permitir com a sua onipotência suplicante, com a sua sabedoria e com seu amor que é o próprio amor do Espírito Santo – Ela é chamada Nossa Senhora do Divino Amor –que nós, sendo devotos dEla, rezando o rosário dEla, tenhamos uma morte de um condenado. 
Mons João Clá Dias - 09/05/2002

terça-feira, 31 de maio de 2016

Frases Mons João Clá Dias




Às vezes, o fato de a gente estar em uma situação de contingência, em uma situação de dependência em que nós mais dependemos de Deus do que dos próprios esforços humanos é o ideal, porque quando tudo depende de Deus, tudo sai mais fácil. Quando depende do homem, aí é que as coisas complicam. (19/12/07)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Também para nós brilha uma estrela

A história dos Reis Magos é um extraordinário exemplo de correspondência ao chamado de Deus. Viram eles uma estrela rutilante dentro da qual — segundo uma bela tradição — se encontrava um Menino que tinha por trás uma luz mais intensa formando uma Cruz 10 e a seguiram sem hesitação. Esta estrela é um símbolo muito expressivo da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Assim como a luz da estrela guiou os Magos, a Igreja é a luz que cintila incessantemente, sem nunca bruxulear nem diminuir seu fulgor, para guiar os povos rumo ao Reino de Deus. E, ao longo dos tempos, todos quantos se converterem é porque de alguma maneira viram esta estrela e resolveram adorar a Jesus Cristo. Ela continua a brilhar e brilhará até o último dia da História, como prometeu Nosso Senhor: “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).
Somos fiéis ao brilho desta estrela?
Cabe, aqui, uma aplicação pessoal: luziu diante de nossos olhos esta estrela por ocasião do Batismo, quando infundiu Deus em nossa alma um cortejo de virtudes — as teologais: fé, esperança e caridade; e as cardeais: prudência, justiça, temperança e fortaleza, em torno das quais se agrupam todas as outras — e os dons do Espírito Santo, e passamos a participar da natureza divina. Pertencemos ao Corpo Místico de Cristo e o Céu se abre diante de nós. Tornou-se mais resplandecente esta estrela no dia de nossa Primeira Comunhão, ao recebermos o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo glorioso, para Ele nos assumir e santificar. A todo instante ela nos convida à santidade, a rejeitar nossas más tendências e a estar totalmente prontos para ouvir a voz da graça que diz em nosso interior “Vem, segue-me!”, e nos chama a sermos generosos, de forma a cada um de nós também constituir para os outros uma estrela, atraindo-os para a Igreja.
Se, por miséria ou por provação, perdermos de vista esta luz, precisamos ir a Jerusalém, ou seja, à Santa Igreja, a qual, em seus templos sagrados, se mantém sempre à nossa espera para nos indicar onde está Jesus. Ali haverá um sacerdote, estará exposto o Santíssimo Sacramento ou se encontrará uma imagem piedosa, instrumentos para reacender a estrela existente em nosso coração.
Incumbe-nos, ademais, tomar cuidado com o “Herodes” instalado dentro de nós: nosso orgulho, nosso materialismo, nosso egoísmo. Ele almeja apagar esta estrela, pelo pecado mortal, e colocar-nos nas vias dos prazeres ilícitos; quer levar-nos a matar Jesus Cristo que está em nossa alma como um luzeiro cintilante. Seremos do mundo e do demônio se tivermos uma vida dupla, limitando-nos a frequentar a igreja aos domingos e comportando-nos, depois, como se desconhecêssemos a estrela. Devemos, portanto, estar sempre junto a Nosso Senhor, oferecendo-Lhe o ouro do nosso amor, o incenso da nossa adoração e a mirra das nossas misérias e contingências, pedindo constantemente o auxílio de sua graça.

Compreendamos, nesta Solenidade da Epifania, que os Magos nos dão o exemplo de como alcançar a plena felicidade. Com os olhos fixos em Maria, imploremos: “Minha Mãe, vede como sou fraco, inconstante, miserável, e quanto preciso, ó Mãe, da vossa súplica e da vossa proteção. Acolhei-me, minha Mãe, eu me entrego em vossas mãos para que Vós me entregueis a vosso Filho”. E dirigindo-nos a São José, digamos: “Meu Patriarca, senhor meu, aqui estou, tende pena de mim, ajudai-me a pedir a vossa esposa, Maria Santíssima, para Ela ter sempre os olhos postos em mim”. Roguemos aos Reis Magos que intercedam junto ao Santo Casal e ao Menino Jesus, para nos obter a graça de não procurarmos luzes mentirosas, mas seguirmos a verdadeira estrela, ou seja, a da prática da virtude e do horror ao pecado. 
1 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.36, a.5, ad 4.
Texto extraído dos comentários de Mons João Clá Dias ao Evangelho- Solenidade da Epifania - Revista Arautos do Evangelho - Jan 2016 

domingo, 29 de março de 2015

A obediência autêntica

Deus espera de cada um de nós este sacrifício: desapego daquilo que nos desvia do rumo certo, ou de qualquer apreensão que amarre nosso coração a algo que não seja Ele, e docilidade no tocante à sua vontade. Uma vez que nos chamou à santidade, Ele nos quer por inteiro e que estejamos constantemente com o cutelo elevado como Abraão. Se Abraão esteve disposto a entregar Isaac, como não estaremos nós prontos para oferecer aquilo que constitui um obstáculo para a salvação e para nosso relacionamento perfeito com o Senhor? De quanto proveito seria firmarmos um propósito ardoroso de pôr sobre a lenha cada um de nossos caprichos, sobre eles descer a faca e, em seguida, atear-lhes fogo, imolando-os em holocausto a Deus! Desta maneira, como Abraão, nos tornaríamos livres de qualquer apreço desordenado às criaturas.

É comum ouvirmos elogios à fé do santo patriarca, que realmente é digna de todo louvor; mas talvez mais bela ainda seja sua obediência, refletida na do filho Isaac. “A obediência” — afirma Santo Inácio de Loyola — “é um holocausto, no qual o homem inteiro, sem dividir nada de si, se oferece no fogo da caridade a seu Criador e Senhor [...]; é uma resignação inteira de si mesmo, pela qual se despoja todo de si, para ser possuído e governado pela Divina Providência”. A obediência praticada com tal radicalidade obtém-nos a realização das promessas, porque Deus assegura a Abraão: “Juro por Mim mesmo — oráculo do Senhor —, uma vez que agiste deste modo e não Me recusaste teu filho único, Eu te abençoarei e tornarei tão numerosa tua descendência como as estrelas do céu e como as areias da praia do mar. Teus descendentes conquistarão as cidades dos inimigos. Por tua descendência serão abençoadas todas as nações da Terra, porque Me obedeceste” (Gn 22, 1618). Que consolo seria podermos ouvir a voz de Deus dizendo-nos: “Uma vez que recusaste todos os teus apegos, os queimaste e puseste num altar em sacrifício, Eu te abençoarei, porque tu Me obedeceste”. A obediência é das virtudes que mais agradam a Deus; não aquela que se baseia em exterioridades, mas, sim, a que nasce no fundo do coração, como foi a de Abraão: esta é a obediência autêntica.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Serenidade, filha da confiança inabalável

Ele dormia. As ondas batiam, o vento soprava. Entre os estalos da barca e as vozes dos pescadores, o barulho era ensurdecedor. Mas Ele, impassível, dormia. Os Apóstolos, ainda não habituados ao olhar da fé, preocupavam-se mais em encontrar soluções humanas que em pedir o auxílio divino. E fracassados no seu intento, em vez de se voltarem esperançosos para um milagre vindo da mão divina, repreendem zangados a quem os podia salvar: “Mestre, não Te importa que pereçamos?” (Mc 4, 38).
Oh, atitude tristemente frequente!... A figura do Mestre deitado numa barca que afunda é clássica. Porque também é clássico que o homem, inveteradamente autossuficiente, busque em si, e não em Deus, a solução para seus problemas. Problemas que são, por sua vez, permitidos por Deus para que o homem reconheça que, sem Ele, nada pode fazer (cf. Jo 15, 5). Por isto Jesus, às vezes, finge cochilar...
O orgulho muitas vezes se nega a dar-se por vencido. Há quem veja, entre aqueles que exigiam a Crucifixão de Nosso Senhor, um ímpeto de vingança pelo fato de o Salvador ter-Se negado a lhes conceder a realização de seu sonho messiânico, o qual não consistia em alcançar, nem a glória de Deus, nem a santidade individual, mas benefícios humanos e terrenos, quando não diretamente ilícitos.
Assim, diante da provação, o homem tem dois caminhos: um sobrenatural, de resignação humilde e de esperança confiante, que junta as mãos, e pede a Deus proteção e auxílio; outro, orgulhoso, que vê na dor, destinada a purificá-lo e uni-lo mais ao Pai, uma punição indevida. Nestes tristes casos, sói então acontecer que o homem mundano, de dentro de sua iniquidade, acuse a Deus de injustiça (cf. Ez 18, 25), e por ódio pecaminoso contra a origem de toda justiça, procure matar o Autor da vida.
No caos do mundo atual, enquanto alguns acusam a Deus, outros Lhe devotam uma indiferença sistemática e outros ainda se voltam suplicantes para o mundano, o terreno: política, tecnologia, soluções ambientais, ações sociais... São pescadores na tempestade, afanando-se entre cordas, mastros e velas. Quem hoje se lembra de recorrer filial, ardente e devotamente Àquele que, sereníssimo, parece dormir na barca?
E, entretanto, está Ele constantemente junto a nós, sempre disposto a nos atender, amparar e proteger, desde que recorramos a Ele, com humildade e retidão; acaso ter-se-ia diminuído o poder d’Aquele que curou leprosos, deu a vista a cegos, ressuscitou mortos, expulsou demônios, com uma palavra?

“Uns põem sua força nos carros, outros nos cavalos; nós, porém, a temos no nome do Senhor, nosso Deus”, diz o salmista (Sl 19, 8). Ao contrário do que prega o mundo, têm nas mãos o timão da História os que confiam além de toda esperança, com os olhos postos n’Aquele que afirmou: “Coragem, Eu venci o mundo!” (Jo 16, 33). E é a estes gigantes da fé que verdadeiramente pertence o futuro. Aqueles para quem, como dizia Santa Teresa de Jesus, "só Deus basta".
Revista Arautos do Evangelho

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Sol entre duas fornalhas

Todo sacerdote é, conforme nos ensina São Paulo, “escolhido entre os homens e constituído a favor dos homens como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus” (Hb 5, 1). Ele é, portanto, e antes de mais nada, um homem que comparte a mesma sina de todos os demais filhos de Adão e Eva, carregando defeitos e qualidades, e tendo na sua frente uma estrada de luta na qual se misturam tristezas e alegrias. Contudo, ao ser chamado por Cristo para ser seu ministro, deixa de ser um homem comum: ele passa a ser aquele sobre quem a mão de Deus pousou.
Confiscado por Deus para servi-Lo com exclusividade numa condição excelsa, o sacerdote se vê, contudo, muitas vezes assediado pelas preocupações do mundo. Constituído “como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus”, é frequentemente tentado de cuidar de outros afazeres, como Marta, à qual, entretanto, Nosso Senhor recordou: “uma só coisa é necessária” (Lc 10, 42). Isto será tanto mais verdade para quem livremente escolheu colocar a mão no arado (cf. Lc 9, 62).
Pela imposição das mãos, o presbítero é consagrado ao serviço do Senhor. Torna-se pessoa sagrada, ministro de um culto sagrado, visando um fim sagrado. Isto exige dele ter, a partir daquele momento, “um coração totalmente entregue ao Senhor” (Card. Franc Rodé, Homilia, 22/8/2014). Obriga-o também a renunciar a tudo quanto seja profano e possa afastá-lo do sagrado.
Instrumento puríssimo do amor divino, o sacerdote tem como missão essencial incendiar as almas com o fervor por Deus, para multiplicar e expandir o fogo sublime que o próprio Cristo veio trazer à Terra (cf. Lc 12, 49), com o preço de seu Sangue; aquele fogo belíssimo que desceu sobre Maria e os Apóstolos (cf. At 2, 3).
Contudo, o mesmo Cristo que promete as maiores recompensas para os fiéis, não deixa de ameaçar as “árvores que não produzirem bons frutos” (Lc 3, 9; Mt 3, 10) com um “fogo que nunca se apaga” (Mc 9, 46). O sacerdote é colocado assim, numa perspectiva que transcende largamente sua natureza humana, entre duas fornalhas eternas: uma toda feita de amor, outra alimentada pela Justiça Divina.
Mas a santidade própria ao estado sacerdotal não se esteia no desejo de servir a Deus por temor ao inferno. O ministro consagrado deve abrasar-se de uma caridade intensíssima que o consuma, diante da qual nenhum sacrifício, nenhuma renúncia, nenhum holocausto pareçam excessivos. Chamado a ser “luz do mundo” (Mt 5, 14), o sacerdote tem o dever de converter-se num sol a iluminar e aquecer a Terra com o ardor de seu amor a Deus.

Se o católico ideal é um homem de fogo, o sacerdote só será digno de sua altíssima condição se ele tiver uma alma incendiada em amor. Se ele for um homem em cujas veias não circula sangue, mas fervor em brasas.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Evangelizar através da beleza

Os impressionantes avanços técnicos e científicos do século XX transformaram a fundo a vida quotidiana do homem. Graças a eles tornou-se possível executar sem esforço tarefas até então insuspeitadas. Mas essa praticidade acabou por conferir, de outro lado, uma simplificação em todos os atos sociais.
As cerimoniosas manifestações de respeito, por exemplo, foram paulatinamente substituídas por maneiras cada vez mais informais. No mesmo sentido, qualquer ornato passou a ser considerado desnecessário por não ser prático. E no intuito de procurar a funcionalidade em tudo, acabou-se por se distanciar do que é transcendente ou sobrenatural.
Nessa conjuntura, não faltaram vozes que alertaram ter o mundo moderno quase exilado a beleza do dia a dia. Entre elas, a do Papa Paulo VI que, por ocasião do encerramento do Concílio Vaticano II, lançou na Mensagem aos Artistas este apelo: “O mundo no qual vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero.”
Sente-se o homem órfão do belo. Sua alma busca valores perenes que reportem às verdades transcendentes. Porque “assim como a corça suspira pelas águas vivas” (Sl 41, 2), o ser humano tem sede de Deus, Beleza absoluta e eterna.
Para saciar esse legítimo anseio, dispõe a Igreja de um inestimável instrumento: a Liturgia. Se a ilibada doutrina católica ilumina e orienta a humanidade há dois mil anos, talvez tenha chegado o momento de atingir, sobretudo pela beleza expressa nos ritos, as gerações pós-modernas tão avessas a estudos teóricos.
Não estará reservado para a presente quadra histórica o recurso àquilo que São Tomás denomina convertio ad phantasmata? Haverá, em última análise, hoje em dia, outro meio mais idôneo de evangelizar?
A Liturgia, devidamente executada e apresentada, é mais eficaz na evangelização do que qualquer documento escrito, porque atinge todas as pessoas, independente de cultura, idade ou idioma. Nela, o belo se manifesta e fala por si. Sem necessidade de raciocínios, eleva a alma diretamente ao sagrado, abrangendo todos os sentidos do homem.
Com efeito, qual a razão de os paramentos litúrgicos terem sido, em todos os tempos, elaborados com os mais requintados tecidos ricamente bordados? Por que a Esposa de Cristo destilou delicados incensos para representar nossa oração subindo ao Pai? E para que os sinos e o órgão, veneráveis vozes da Santa Igreja, senão para melhor nos elevar às realidades celestes? E a beleza e riqueza dos templos e dos objetos utilizados no culto?
A solenidade, a pompa e o esplendor da Liturgia criam um ambiente atemporal que liga o passado ao presente, o visível ao invisível, o terreno ao celestial, enfim, a criatura ao Criador.

Realmente, como bem lembrou São João Paulo II, nunca como hoje se pode dizer tão a propósito que a beleza salvará o mundo! 

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A palavra: seu poder

Assim como a presença de Nosso Senhor na Terra é multiplicada ao longo dos tempos pelo Sacramento do Altar, a sua Palavra é propagada pelos lábios dos sacerdotes. E a ambos — Eucaristia e Palavra — devemos dar o mesmo tratamento, conforme ensina Santo Agostinho com sua inquestionável autoridade.
Por isso Jesus, que dá aos seus ministros o poder de promover a transubstanciação, também lhes dá o de encontrar a palavra exata em benefício das almas. Com efeito, quantas angústias mitigadas, quantos furores apaziguados, quantas dúvidas de consciência resolvidas nos sigilos dos corações, quando Deus fala através de seus sacerdotes! Nisso temos um direito fundamental e sagrado do fiel: o acesso à palavra vivificante do sacerdote.
Quando uma palavra procede do conhecimento humano, fruto do estudo, da observação ou da elucubração, tem alguma utilidade? Sim, sem dúvida. A palavra de um literato, de um historiador ou de um filósofo, pode ser muito interessante e até formativa. Mas não se compara às palavras proferidas por Nosso Senhor, que “são espírito e vida” (Jo 6, 63).
Multiplicadas pelos seus ministros, penetram elas a fundo nas almas. Mas, para isso, devem vir robustecidas pelo exemplo de vida do pregador, e por sua convicção de que tudo depende da ação da graça divina. Elas, assim, se tornarão fecundas. Pois a palavra vivificada pelo Espírito nunca é proferida sem produzir os seus efeitos.
Quantos e quantos exemplos a história da Igreja nos legou de pregadores que, convencidos desse poder de que é dotada a sua palavra, obtiveram grandes feitos: é um São Remígio que converte o rei Clóvis e, com este, toda a nação dos francos, iniciando a edificação da Europa católica; é um São João de Capistrano que lidera os cristãos na defesa vitoriosa de Belgrado, conseguindo salvar todo o continente; é um Beato José de Anchieta que pacifica milhares de indígenas em torno da jovem colônia portuguesa no Brasil, lançando as bases dessa nação.
Mas, quiçá mais impressionante que essas façanhas históricas sejam as conversões ocorridas durante a rotineira homilia da Missa dominical, ou por ocasião de conselhos no Sacramento da Reconciliação, ou ainda numa pregação de retiro, por exemplo. São verdadeiros milagres espirituais ocorridos diariamente em todo o mundo, aberturas de alma para a voz da graça as quais muitas vezes permanecem envoltas na discrição, sem conhecimento sequer do sacerdote.

A palavra pode, pois, converter e edificar, aplainar e estimular ao bem. Trata-se de o sacerdote se compenetrar desse poder que lhe vem de Nosso Senhor.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Ambientes que favorecem a virtude

Deus estabeleceu misteriosas e admiráveis relações entre certas formas, cores, sons, perfumes, sabores e, de outro lado, certos estados de alma. Por esses meios pode-se influenciar a fundo as mentalidades e induzir pessoas, famílias ou povos a adotarem um determinado estado de espírito.
Assim, o solene bimbalhar do sino tem o condão de elevar o pensamento para o sobrenatural. O perfume do incenso põe-nos em estado de oração. E, conjugando vários desses elementos, é possível criar ambientes que oponham barreiras às nossas paixões desregradas e predisponham o espírito para desejar o Céu.
Ora, a recíproca também é verdadeira. A análise das manifestações artísticas de uma civilização apresenta-se como um dos melhores recursos para conhecer sua forma de pensar, pois o ideal de beleza e harmonia que nela impere estará sempre intimamente ligado aos princípios filosóficos e morais que a conformam.
A alma do homem medieval, equilibrada e sequiosa de transcendência, é admiravelmente expressa pelas formas esguias das catedrais góticas, sua diáfana concepção do espaço, o rico colorido dos vitrais e a expressividade das esculturas. Elas conseguem transmitir certos aspectos imponderáveis da filosofia e a teologia da época que nem sequer nos sublimes raciocínios do Doutor Angélico é possível achar.
Mais ainda do que a arquitetura, tem a música o poder de despertar sentimentos e, através deles, influir nos estados de espírito e até nas mentalidades. Pensemos no que seria, por exemplo, um desfile militar em completo silêncio, um filme de ação desprovido de trilha sonora ou uma festa de Natal sem o “Noite Feliz”. A essência do fato permaneceria a mesma, mas faltar-lhe-ia uma das principais vias para atingir o interior da alma humana.
Por isso, desde os mais antigos tempos tem a Igreja recorrido também a essa arte, no intuito de levar as almas para a consideração das coisas celestes. Nos primeiros séculos, ouviam-se apenas cantos a cappella, com linhas melódicas simples cujo poderoso efeito foi, entretanto, louvado por Santo Agostinho: “Sinto que nossas almas se movem mais devota e ardorosamente para a chama da piedade, com essas letras sagradas, quando elas assim são cantadas” (Confessionum X, c.33, n.49).
Surgiram depois o contraponto, a polifonia, os oratórios sacros, as Missas dos grandes compositores. Desdobrada numa imensa variedade de estilos, a música não fez senão confirmar ao longo dos séculos sua capacidade “de remeter, para além de si mesma, para o Criador de qualquer harmonia, suscitando em nós ressonâncias que são como um sintonizar-se com a beleza e a verdade de Deus com aquela realidade que sabedoria humana alguma ou filosofia podem expressar” (Bento XVI, discurso 4/9/2007).
Não nos enganemos, portanto, considerando a arquitetura e a música como meros exercícios de estética desprovidos de transcendência. Por meio delas pode-se criar ambientes que favoreçam a prática da virtude e promovam a nossa santificação.

Não será este um dos meios mais eficazes, e talvez dos menos utilizados, para evangelizar os homens de hoje?

sábado, 19 de outubro de 2013

A caridade hoje, nos antigos tempos e no futuro

Qão numerosas, ó Senhor, são vossas obras, e quanta sabedoria em todas elas!” (Sl 103, 24) — exclama o Salmista, pervadido de admiração, ao contemplar a incomensurável variedade de criaturas que enchem o universo.
Nos esplendores da aurora, varando as nuvens, os raios vitoriosos do Sol derramam sua generosa claridade sobre a vastidão da Terra. A luz desce as montanhas, atinge as encostas e vales, fecunda plantações, suscita o concerto das aves e desperta os rebanhos. Dir-se-ia que o astro rei tem pressa em voltar a espargir seus benefícios, e que a Terra, há pouco escura, cheia de saudades, exulta afinal pelo reencontro.
Por sua vez, no decurso das estações e dos tempos, o mundo vegetal se apressa em distribuir suas riquezas sem conta, e parece rejubilar-se em esbanjá-las. Trigais dourados e plantios infindos para o homem, pastagens copiosas para o gado, frutos em profusão para os pássaros, abundância para todos. A generosidade se apresenta também como a regra desse universo vivo de raízes, ervas e troncos, que o solo dadivoso se compraz em sustentar e fortalecer.
Quanta prodigalidade! A natureza se revela como imensa sinfonia, na qual seres irracionais ou inanimados, cumprindo perenes desígnios do Criador, multiplicam os favores e persistem na doação generosa, ou são beneficiados e recebem de outros o necessário para sua subsistência. Inúmeras lições poderíamos auferir de tantas maravilhas, mas, sem dúvida, há uma que salta aos olhos do bom observador: a ordem da criação resplandece diante de nós como magnífico espelho da CARIDADE.
Caridade! Virtude desconhecida no paganismo e apenas vislumbrada no Antigo Testamento, desceu à Terra com o Verbo de Deus e se difundiu na humanidade como divino perfume do próprio Jesus Cristo. É por ela que todos se harmonizam: grandes e pequenos, poderosos e desvalidos. Movidos pela caridade, incontáveis homens e mulheres mais dotados de fortuna transformaram-se, ao longo da História, em verdadeiros anjos de proteção e dedicação aos pobres e miseráveis. Pelo impulso da caridade, os corações e as bolsas se abriram: edificaram-se hospitais, alimentos foram distribuídos, dores aliviadas, lágrimas enxugadas e corpos gélidos aquecidos. Quão belos espetáculos a caridade protagonizou no relacionamento entre ricos e pobres!
O que seria dos pobres, se ricos não houvesse para consolá-los com sua ajuda? E, se não existissem os pobres, como poderiam os ricos praticar esse amor de misericórdia, do qual o Sagrado Coração de Jesus é a fornalha ardente?
Caridade! Regra perfeita de uma sociedade verdadeiramente conforme ao Evangelho, na qual os ricos, sem terem de renunciar à sua riqueza, são irmanados em Cristo com os pobres; e estes, mesmo não se enriquecendo, veem naqueles a mão dadivosa de Deus. Nessa sociedade germinará e florescerá, até o fim dos tempos, o ideal descrito pelo Apóstolo:
A caridade é paciente, a caridade é bondosa, não tem inveja. A caridade não é orgulhosa, não é arrogante nem escandalosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. [...] Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará” (I Cor 13, 4-8).

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Quem precisa do Médico?

Enorme sensação haveria no mundo, se alguém demonstrasse que as técnicas de filmagem já existiam nos tempos evangélicos. E ainda maior seria o pasmo se tal afirmação fosse corroborada por uma descoberta inaudita: filmes autênticos da vida de Jesus.
O maravilhoso achado produziria um encanto indescritível, mas também… algumas surpresas.
Com efeito, quem se habituou a considerar a figura do Salvador segundo preconceitos arraigados e visualizações unilaterais, sentir-se-ia talvez desconcertado. E assim poderia exprimir uma de suas objeções:
— Mas que público heterogêneo, verdadeiro universo de classes e raças desfila diante d’Ele para ser beneficiado! Agora, por exemplo, depois de curar um infeliz leproso, Ele se detém para ouvir com solicitude o pedido de um oficial romano, símbolo vivo da lei do mais forte, e, além disso, endinheirado! E, o que faz Ele naquela nobre mansão, participando de um funeral de luxo? Ah! É a morada de um importante personagem, onde Ele vai ressuscitar a menina que acaba de morrer. Está bem, mas… por que vai então repousar nessa outra sala, tão fina e arranjada? De novo, é uma casa de ricos! Bom! Vai jantar com três irmãos, família conhecida e muito visitada, que o recebe com especial afeto, é verdade. Mas uma das irmãs enlouqueceu de repente! Esbanja dinheiro com perfumes, apenas para agradá-Lo, e Ele ainda toma a defesa da desvairada! Oh! E eu que imaginava Jesus cercado só de maltrapilhos, protetor somente dos mendigos, advogado apenas dos marginalizados...
— E a túnica d’Ele? Inconsútil, de primeira categoria! Chama a atenção até de ignorantes, como os legionários de Pilatos! Não poderia Ele apresentar-Se com mais simplicidade?
— O que dizer de suas parábolas? Nenhuma classe se encontra nelas especialmente contemplada, nem pobres nem ricos, nobres ou plebeus. Vemos reis partindo para a guerra, pastores, vinhateiros, donas de casa, miliardários que pagam seus empregados de modo exagerado ou lhes perdoam dívidas astronômicas, monarcas que organizam festas de casamentos, potentados no inferno, virgens loucas ou previdentes…
Assim, quantas outras surpresas causaria esse hipotético filme da vida de nosso Salvador! Entretanto, os Evangelhos narram pormenorizadamente todos esses episódios, que revelam de modo insofismável a universalidade da ação santificadora de Jesus. Se tivéssemos a imensa felicidade de presenciá-los, apenas uma atitude seria aceitável e digna de verdadeiros seguidores d’Ele: cair de joelhos aos seus pés e exclamar, transidos de amor e adoração:
— Senhor, bem dissestes que “os sãos não precisam de médico, mas os enfermos” (Mc 2, 17). Enfermos de espírito existem em todas as classes e todos os meios. Quem poderia declarar-se saudável diante de Vós? Apenas vossa Mãe Santíssima, pois quisestes adorná-La com todas as plenitudes da inocência e da santidade. Mas todos os demais imploram vossos remédios, divino Médico das almas. E quem ousaria desprezar os pobres e pequenos, amados por Vós com tanta ternura? Quem se atreveria a excluir os ricos e condená-los como maus, se também a eles oferecestes vosso carinho? Não haja mais fronteiras para a caridade entre uns e outros! Tenham os ricos a alegria e a generosidade sempre renovada de ajudar os pobres, e recebam estes o consolo incansável daqueles. Queremos imitar-Vos, Senhor, em vosso zelo universal e em vosso amor sem fronteiras.

Extraído da Revista Arautos do Evangelho – agosto 2013

sábado, 19 de janeiro de 2013

Contemplação e eficiência

Cada época possui seus mitos. A nossa, dominada pelo materialismo, cultua a eficiência, personificada pela figura do businessman bem-sucedido, cujo dinamismo e capacidade de ação geram e multiplicam um dos produtos mais adorados da civilização moderna, ou seja, o dinheiro.
Esse mito torna árdua a compreensão da superioridade e o próprio valor da contemplação. Entretanto, esta é a finalidade última do ser humano, pois a salvação eterna se cifra em contemplar a Deus face a face.
São Tomás de Aquino, com sua costumeira sabedoria, levanta o problema sobre qual das vidas é a mais excelente: a ativa ou a contemplativa? Quantos de nossos contemporâneos responderiam ser a vida ativa... Pois, afinal, precisa haver quem produza! São Tomás não nega a validade desse argumento: “Em determinados casos, é preferível escolher a vida ativa, por causa das necessidades da vida presente. Até o Filósofo o reconhece, quando afirma: ‘Filosofar é melhor do que ganhar dinheiro. Mas, para quem passa necessidade, ganhar dinheiro é preferível’” (Suma Teológica, IIII q. 182 a. 1 resp).
Porém, afirma ser a vida contemplativa, por sua natureza, mais excelente que a ativa; e o demonstra com nove argumentos, como por exemplo: “Porque a vida contemplativa se entrega às coisas de Deus, ao passo que a vida ativa se aplica às coisas humanas. [...] Porque há maior alegria na vida contemplativa que na vida ativa. Assim diz Agostinho: ‘Marta se agitava; Maria se deleitava’. [...] Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada” (Idem, ibidem).
O mundo prestigia os eficientes, mas a influência sobre os acontecimentos cabe às almas contemplativas, pelo fato de possuírem o cetro da História: a oração. Por meio desta, elas movem a Deus, o qual é o verdadeiro motor da História. Quem mais nos convencerá a esse respeito é o exemplo de uma jovem virgem da cidade de Nazaré. Nas silenciosas súplicas de Seu coração contemplativo, obteve do Pai a vinda do Messias: “Deus Pai só deu ao mundo seu Unigênito por Maria. Suspiraram os patriarcas e pedidos insistentes fizeram os profetas e os santos da Lei Antiga durante quatro milênios, mas só Maria o mereceu e alcançou graça diante de Deus, pela força de suas orações e pela sublimidade de suas virtudes”— ensina São Luís de Montfort (Traitè de la vraie dévotion à la Sainte Vierge, n. 16).
Naquela época, o centro dos acontecimentos era a Roma pagã, onde não faltavam homens eficientes. Mas nem a ciência de seus sábios, nem a genialidade de seus Césares foram capazes de resolver os graves problemas do Império Romano: corrupção do Estado, desagregação da família, dissolução dos costumes, guerras constantes, idolatria, desprezo pela vida, escravatura, etc. Foi uma virgem contemplativa que obteve de Deus a Encarnação do Verbo e a Redenção do gênero humano, com a qual se iniciou, sob o signo da Cruz, uma nova era histórica.
Quem sabe se, para a solução da crise hodierna, cuja raiz é essencialmente moral, serão insuficientes, talvez até ineficazes, fórmulas puramente humanas. Uma vez mais, torna-se imprescindível mover o coração de Deus: “Por meio de Maria começou a salvação do mundo e é por Maria que deve ser consumada”, afirma São Luís de Montfort (Idem, n. 48).

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Cristo, Centro da História




A luz que emanou da Gruta de Belém, na noite de Natal, não ficou circunscrita àquele exíguo espaço. Ela se projetou na História, pelos séculos afora, e crescerá em esplendor até o fim dos tempos, quando Cristo se manifestará em toda a sua glória. 

Mas a luz produz sombras que ressaltam a beleza de seu brilho. Também o Natal tem sombras... A atitude de Herodes é uma delas. Ao ouvir a pergunta dos reis Magos — “Onde está o rei dos judeus?” —, ele se perturbou e toda a Jerusalém com ele, diz o Evangelho. “E reunindo todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo, perguntou-lhes onde devia nascer o Messias” (Mt 2, 4). 

Quando Jesus Menino deu os primeiros vagidos, suavemente embalado nos braços virginais de Maria, já os acontecimentos se desenrolavam em função d’Ele. O eixo da História se deslocava dos palácios dos grandes desta terra para aquela humilde Gruta. 

Os Céus se abriram e desceram legiões de anjos, cantando para festejar o nascimento do Messias. Do Oriente vieram poderosos reis com seus grandes séquitos para O adorar. Simeão e Ana se alegraram ao ver Jesus Menino e profetizaram a seu respeito. Herodes procurou matá-Lo... Diante de Jesus, ninguém ficou indiferente. Mudou o eixo da História, e esta passou a girar em torno daquele Menino, nascido da Virgem Maria. Tal realidade iria tornar-se cada vez mais notória à medida que se expandisse a Igreja. 

Qual homem, por mais célebre que tenha sido, ocupa na História papel tão central? 

Ao longo dos séculos, os acontecimentos se sucederam, ruíram povos, impérios e nações. Outros surgiram no seu lugar. Até o fim do mundo, quantas civilizações desaparecerão ainda? 

Em nossos dias, Jesus já é conhecido em toda a terra. Podem os homens aceitá-Lo, rejeitá-Lo ou mesmo persegui-Lo; não, porém, permanecer indiferentes diante d’Ele. As perseguições são, elas mesmas, testemunho de sua incomensurável grandeza. 

                                                                       * * * 

A própria seqüência do ciclo litúrgico — que rememora ao longo do ano toda a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, até sua Ascensão aos Céus — é uma forma de continuamente ressaltar, nas celebrações eucarísticas de todas as igrejas da terra, essa posição única de nosso Redentor no centro dos acontecimentos humanos. 

E a cada novo ano, ao se comemorar o Natal, não há quem não pare um instante e não sinta o apelo suave e consolador do Deus-Menino, infundindo Paz e convidando a segui-Lo. Esse convite será aceito ou recusado. Mas Cristo não deixou de constituir o centro da existência de cada um de nós. E assim será de forma crescente, até o fim dos tempos, quando Jesus se manifestar gloriosamente a toda a humanidade, tornando-se de forma irrecusável e visível o centro, não mais da simples História, mas de toda a eternidade.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Maria e o rosário


Em meio às aflições e dramas pelos quais passa a humanidade, o Sucessor de Pedro contempla o horizonte carregado de ameaçadoras nuvens e, movido pelo infalível sopro do Espírito Paráclito, discerne ter chegado o momento de ancorar a mais preciosa das Barcas, para enfrentar a grande tempestade que se avizinha.

Se não fosse a promessa irreversível do Senhor: “as portas do Inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18), o futuro imediato da Barca de Pedro poderia ser a submersão pela procela apocalíptica que a cerca de todos os lados.

Será, entretanto, suficiente lançar âncoras e assistir de braços cruzados aos acontecimentos, tendo em vista a garantia de imortalidade da Igreja? Não é como tem procedido nosso Papa, nas atuais circunstâncias.

Uma de suas mais destacadas providências foi amarrar a Nau da Igreja à coluna da Eucaristia e à de Maria. Tem ele se destacado como um Papa apaixonado por conduzir os fiéis a abraçarem a santidade, essencialmente Eucarístico e Mariano, conforme atestam seus documentos.

Afirmou o saudoso Papa João Paulo II que “do mistério pascal nasce a Igreja. Por isso mesmo a Eucaristia, que é o sacramento por excelência do mistério pascal, está colocada no centro da vida eclesial”. Confiante no triunfo do Imaculado Coração de Maria, por Ela prometido em Fátima, com confiança proclamou-A Intercessora da Igreja, da humanidade e do futuro: “[…] confio de novo nas mãos da Mãe de Deus a vida da Igreja e a vida tão atormentada da humanidade. A ela confio o meu futuro. Entrego tudo nas suas mãos, para que, com amor de mãe, apresente ao seu Filho ‘para servir à celebração de sua glória’” (Audiência, 16/10/2002). Enalteceu o quanto pôde a recitação do Santo Rosário: “Quantas graças recebi nestes anos da Virgem Santa através do Rosário: Magnificat anima mea Dominum!” (Rosarium Virginis Mariae, 2).

“O Rosário é oração bíblica, toda tecida de Sagrada Escritura. É oração do coração, em que a repetição da Ave Maria orienta o pensamento e o afeto para Cristo, tornando-se súplica confiante na sua e nossa Mãe”, explicou o Papa Bento XVI na mensagem antes da oração do Ângelus, no Vaticano.

E o que foi que Nossa Senhora aconselhou aos homens e mulheres de nossa época? “Rezai o terço todos os dias para alcançar a paz para o mundo”. Atendamos com solicitude filial seu afetuoso pedido, sendo ardorosos devotos do Santo Rosário e fazendo crescer em nós, a cada dia, o amor a Ela.

terça-feira, 27 de março de 2012

A DOR E O AMOR A DEUS

Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Fazendo eco a essas palavras de São Paulo na primeira Epístola aos coríntios, a liturgia da Semana Santa se refere à Paixão do Senhor, proclamando que os tormentos por Ele sofridos transformaram-se em glória e esplendor. Ao triunfar sobre a morte e o pecado, Cristo Jesus comprou nossa salvação, abrindo-nos de par em par as portas do Céu.

Foi esse, entretanto, o único objetivo do Salvador com seu supremo martírio? Não. Além de reparar as ofensas feitas ao Pai pelos pecados cometidos por suas criaturas humanas, e de redimi-las, quis Jesus nos ensinar um novo caminho de amor a Deus: o oferecimento irrestrito das próprias dores, chegando até ao sacrifício da própria vida.

Após o pecado original, afirma São Tomás, estabeleceuse na alma humana a necessidade do sofrimento para facilitar- lhe a aceitação de seu estado de contingência e, assim, ser levada a recorrer ao auxílio sobrenatural. Esta é a razão pela qual muitos autores católicos têm comparado a dor a uma espécie de oitavo sacramento. Sem esse poderoso meio, acentuar-se-ia no homem a tendência de fechar-se sobre si mesmo e constituir-se em centro do universo.

A dor o obriga a juntar as mãos em atitude de oração e a implorar a proteção de Deus e dos santos. Jesus, ao submeter-se a dores atrozes, físicas e morais, deu-nos o exemplo e a lição de quanto a dor é eficaz para conquistarmos a vida eterna. Visto na perspectiva da Cruz de Cristo, o sofrimento é suportado com paz e serenidade e se torna insubstituível instrumento de conversão e progresso espiritual.

A Semana Santa nos traz excelente ocasião para refletirmos a respeito dos benefícios da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aproveitemos para pedir a nosso Redentor, por intercessão de Nossa Senhora das Dores, que os méritos do seu preciosíssimo sangue derramado desçam sobre nós, de modo que, ao enfrentarmos nossas dores quotidianas, tenhamos as mesmas forças com que Ele enfrentou as dores da Paixão.