Assim como a presença
de Nosso Senhor na Terra é multiplicada ao longo dos tempos pelo Sacramento do
Altar, a sua Palavra é propagada pelos lábios dos sacerdotes. E a ambos —
Eucaristia e Palavra — devemos dar o mesmo tratamento, conforme ensina Santo
Agostinho com sua inquestionável autoridade.
Por isso Jesus, que
dá aos seus ministros o poder de promover a transubstanciação, também lhes dá o
de encontrar a palavra exata em benefício das almas. Com efeito, quantas
angústias mitigadas, quantos furores apaziguados, quantas dúvidas de
consciência resolvidas nos sigilos dos corações, quando Deus fala através de
seus sacerdotes! Nisso temos um direito fundamental e sagrado do fiel: o acesso
à palavra vivificante do sacerdote.
Quando uma palavra
procede do conhecimento humano, fruto do estudo, da observação ou da
elucubração, tem alguma utilidade? Sim, sem dúvida. A palavra de um literato,
de um historiador ou de um filósofo, pode ser muito interessante e até
formativa. Mas não se compara às palavras proferidas por Nosso Senhor, que “são
espírito e vida” (Jo 6, 63).
Multiplicadas pelos
seus ministros, penetram elas a fundo nas almas. Mas, para isso, devem vir
robustecidas pelo exemplo de vida do pregador, e por sua convicção de que tudo
depende da ação da graça divina. Elas, assim, se tornarão fecundas. Pois a
palavra vivificada pelo Espírito nunca é proferida sem produzir os seus
efeitos.
Quantos e quantos
exemplos a história da Igreja nos legou de pregadores que, convencidos desse
poder de que é dotada a sua palavra, obtiveram grandes feitos: é um São Remígio
que converte o rei Clóvis e, com este, toda a nação dos francos, iniciando a
edificação da Europa católica; é um São João de Capistrano que lidera os
cristãos na defesa vitoriosa de Belgrado, conseguindo salvar todo o continente;
é um Beato José de Anchieta que pacifica milhares de indígenas em torno da
jovem colônia portuguesa no Brasil, lançando as bases dessa nação.
Mas, quiçá mais
impressionante que essas façanhas históricas sejam as conversões ocorridas
durante a rotineira homilia da Missa dominical, ou por ocasião de conselhos no
Sacramento da Reconciliação, ou ainda numa pregação de retiro, por exemplo. São
verdadeiros milagres espirituais ocorridos diariamente em todo o mundo, aberturas
de alma para a voz da graça as quais muitas vezes permanecem envoltas na
discrição, sem conhecimento sequer do sacerdote.
A palavra pode, pois,
converter e edificar, aplainar e estimular ao bem. Trata-se de o sacerdote se
compenetrar desse poder que lhe vem de Nosso Senhor.
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