“Et factum est prælium magnum in Cælo” (Ap 12, 7)
Grande batalha fez-se no Céu. Ao brado de “Non serviam!” — Não servirei! — de Lúcifer se antepôs o de São Miguel Arcanjo: “Quis ut Deus?” — Quem como Deus? Foi esse o primeiro rompimento da unidade desejada e estabelecida pelo Criador na ordem do universo. Em seguida, as relações com Deus foram rompidas em sua harmonia por nossos primeiros pais, na atmosfera primaveril do Paraíso Terrestre. A partir de então, invejas, ciúmes, juízos temerários, murmurações, calúnias, revoltas, etc., passaram a ser frequentes, tornando longínqua aquela união do plano primeiro da Criação.
Só mesmo a Encarnação do Verbo poderia oferecer condições ideais para se reobter, de alguma forma, a felicidade original. O próprio Jesus Cristo manifestaria em Sua oração proferida na Última Ceia: “Para que todos sejam um…” (Jo 17, 21). Derramado seu Preciosíssimo Sangue no Calvário, não tardou para que os primeiros cristãos realizassem esse desejo do Redentor, pois “a multidão dos que haviam crido possuíam um só coração e uma só alma…” (At 4, 32). Solidificou-se, assim, o Corpo Místico de Cristo, uma realidade que passou a ser nota marcantemente frequente na pregação e escritos de São Paulo. Insistiria o Apóstolo em considerar o fato de termos uma só Fé e um só Batismo, de constituirmos um só corpo e, em consequência, a necessidade de haver uma perfeita unidade entre todos.
Ademais, como batizados, temos o privilégio de possuir o Divino Espírito Santo como animador do Corpo Místico, tal qual o faz a alma ao unir e promover a cooperação de todos os membros do corpo humano. Ele é amor, e onde este impera há a unidade, pois quem ama facilmente se esquece de si, para fixar-se unicamente em Deus. Por sua vez, Deus, sendo amor e caridade, empenha-Se em dar-Se e comunicar-Se. Eis o verdadeiro modelo para nós: dar, dar de nós mesmos e para sempre. Aqui está a mais celestial maneira de viver nossa vocação de cristãos.
Porém, infelizmente, são múltiplos e crescentes os pecados contra a caridade e, entre eles, os mais graves são praticados pelos homens que se voltam contra a característica essencial do Corpo Místico de Cristo, ou seja, a unidade. Alguns não passam de sentimentos que escapam do influxo da vontade. Outros, porém, são muito graves e, às vezes, fruto de uma consciência deformada que focaliza somente alguns pontos da moral, mas negligencia a suma importância da unidade do Corpo Místico.
Por amor a Deus e a essa harmonia por Ele querida na ordem da Criação e em Sua Igreja, devemos subestimar os defeitos tão comuns à nossa decaída natureza, superando as rivalidades, dissensões e ressentimentos deles oriundos, pela prática de uma profunda e sobrenatural humildade. Sigamos o conselho do Apóstolo: “Sede um só corpo e um só espírito, assim como fostes chamados pela vossa vocação a uma só esperança” (Ef 4, 4).
Ora, se esse deve ser um dos elementos fundamentais da espiritualidade católica de santidade entre irmãos e irmãs, ou seja, a caridade, muito mais temos obrigação de realizá-la em relação ao nosso Doce Cristo na Terra, Sua Santidade o Papa, seja ele quem for.
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