Oportet et haereses inter vos esse” — “É oportuno que haja divisões entre vós” (I Cor 11, 19).
Por mais que seja perplexitante esta afirmação de São Paulo, a realidade dos fatos não tem feito senão confirmá-la. Quantas verdades de Fé não foram definidas apenas quando foi necessário combater o erro oposto? E quantas obras foram suscitadas pelo Espírito Santo, para dar remédio aos males de determinada época! Quase se poderia afirmar ter sido essa a causa do surgimento de grande número de congregações ou ordens religiosas.
Com a instituição dos seminários não foi diferente.
A profunda crise moral e religiosa do século XVI tornou patente a necessidade imperiosa de formar solidamente os que se preparavam para o sacerdócio. Para isto, o Concilio de Trento, em sua sessão de 15 de julho de 1563, recomendou abrir seminários no maior número de dioceses. No ano seguinte, Pio IV decretava a fundação do Seminário Romano, inaugurado em fevereiro de 1565. E, a partir daí, de tal forma essa instituição lançou raízes ao longo dos tempos, que não há hoje pastor que não dedique o melhor de seu esforço e atenção à formação dos futuros sacerdotes.
Encerrado o Concílio de Trento, não foi imediata a aplicação de suas inspiradas diretrizes, no que diz respeito à ampla criação de seminários diocesanos. Os bispos mais zelosos, porém, empenharam-se diligentemente em fazer vigorar as normas conciliares. Por exemplo, São Carlos Borromeu, em Milão e Frei Bartolomeu dos Mártires, em Braga (Portugal), onde fundou o Seminário Conciliar, nome conservado até aos dias de hoje.
Na França, foi São Vicente de Paulo quem deu o mais forte impulso a esta importante iniciativa.“Formar bons eclesiásticos é a obra mais difícil, mais alta e mais importante para a salvação das almas”, dizia ele. Para isto, criou um seminário no Collège des Bons Enfants, onde os candidatos ao sacerdócio foram separados dos demais, a fim de lhes ser dada uma formação religiosa mais cuidadosa. Originavam-se assim um seminário maior e outro menor.
Também em nossos dias o Espírito Santo não deixa de suscitar medidas que dêem remédio aos males de nossa época. Assim, inspirou ao Papa Bento XVI a iniciativa de reformar alguns aspectos do ensino nos seminários, a fim de revitalizar esta instituição e adequá-la melhor às necessidades atuais.
O estudo é indispensável na formação dos seminaristas, mas não deve impedir o sacrum convivium que cada um deles deve ter com Nosso Senhor Jesus Cristo, com sua Mãe Santíssima e com todos os santos e bem-aventurados. Essa é a lição que Nosso Senhor nos deixou. Ele, com sua infinita sabedoria, além de ter promovido a leitura dos Evangelhos, ao longo dos séculos, depois de sua Ascensão, deixou escrita nas almas uma tradição viva. E só depois de ter formado os Apóstolos, nas vias da Revelação e da santidade, é que lhes deu o mandato: “Ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15). No conhecimento teológico e no progresso da vida espiritual, durante os três anos de relacionamento direto dos Apóstolos com Nosso Senhor, consistiu o primeiro seminário da História.
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