Durante nove meses, quis Nosso Senhor Jesus Cristo viver no
claustro materno de Maria. Ele, o Homem-Deus, a Quem todas as coisas obedecem,
ao Qual nem o Céu nem a Terra podem abarcar, deliberou colocar-Se, enquanto
criatura, na mais completa dependência de sua Mãe terrena.
Essa sujeição miraculosa e insondável é motivo de reflexão
para todos os fiéis, mas, sobretudo, para aqueles que se entregaram a Maria
como escravos, segundo a devoção ensinada por São Luís Grignion de Montfort.
Pois essa forma de entrega a Jesus pelas mãos da Santíssima Virgem foi
estabelecida pelo célebre missionário francês “para honrar e imitar a
dependência à qual o Verbo Encarnado quis Se submeter por amor a nós” (O
segredo de Maria, n.63).
Em contraste com essas cogitações, compreende-se melhor quão
insensata é a desobediência das criaturas ao Criador, e que consequências
terríveis não pode deixar de ter. Hoje, sob a capa de uma pretensa liberdade,
que não passa de funesta escravidão ao pecado e às paixões desordenadas, uma
multidão de homens se ufana em escolher o caminho da desobediência aos
Mandamentos e conselhos do Senhor. E, cabe perguntar, não será essa uma das
causas mais profundas da rápida deterioração do mundo atual?
Consagrados a Maria segundo o método de São Luís Maria
Grignion de Montfort, os Arautos do Evangelho olham para a solenidade da
Anunciação como sendo também a festa daqueles que se entregam docilmente a seu
Criador por intermédio de Nossa Senhora. E preparam-se para ela renovando sua
sujeição a Maria, à imitação do ato de obediência do próprio Deus.
O espírito de humildade da Santíssima Virgem em face desse
mistério toma, nessa perspectiva, uma dimensão insondável. Ao Lhe ser anunciado
que o Verbo ia Se encarnar n’Ela, sua reação não se manifestou num hino de
vanglória, mas em termos humilíssimos: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em Mim
segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).
Nessa expressão que deu início à Redenção do gênero humano
estava incluída, porém, uma perplexidade: “Ele deseja meu consentimento para
que se torne realidade esta situação incompreensível: que Eu tenha poder sobre
Ele e Ele dependa de Mim em tudo. Por obediência à sua vontade, aceitarei”.
Desse ponto de vista, resplandece de modo especial a atitude
de Maria dizendo-Se escrava de Deus no momento em que o próprio Criador queria,
por assim dizer, fazer um ato enorme de servidão, de dependência, digamos
ousadamente, de escravidão em relação a Ela. A solenidade da Anunciação é,
portanto, uma ocasião para celebrar também o espírito de obediência, o amor à
hierarquia, à ordem e a sujeição a Deus e à sua Santa Igreja.
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