Todo sacerdote é,
conforme nos ensina São Paulo, “escolhido entre os homens e constituído a favor
dos homens como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus” (Hb 5, 1). Ele
é, portanto, e antes de mais nada, um homem que comparte a mesma sina de todos
os demais filhos de Adão e Eva, carregando defeitos e qualidades, e tendo na
sua frente uma estrada de luta na qual se misturam tristezas e alegrias.
Contudo, ao ser chamado por Cristo para ser seu ministro, deixa de ser um homem
comum: ele passa a ser aquele sobre quem a mão de Deus pousou.
Confiscado por Deus
para servi-Lo com exclusividade numa condição excelsa, o sacerdote se vê,
contudo, muitas vezes assediado pelas preocupações do mundo. Constituído “como
mediador nas coisas que dizem respeito a Deus”, é frequentemente tentado de
cuidar de outros afazeres, como Marta, à qual, entretanto, Nosso Senhor
recordou: “uma só coisa é necessária” (Lc 10, 42). Isto será tanto mais verdade
para quem livremente escolheu colocar a mão no arado (cf. Lc 9, 62).
Pela imposição das
mãos, o presbítero é consagrado ao serviço do Senhor. Torna-se pessoa sagrada,
ministro de um culto sagrado, visando um fim sagrado. Isto exige dele ter, a
partir daquele momento, “um coração totalmente entregue ao Senhor” (Card. Franc
Rodé, Homilia, 22/8/2014). Obriga-o também a renunciar a tudo quanto seja profano
e possa afastá-lo do sagrado.
Instrumento puríssimo
do amor divino, o sacerdote tem como missão essencial incendiar as almas com o
fervor por Deus, para multiplicar e expandir o fogo sublime que o próprio
Cristo veio trazer à Terra (cf. Lc 12, 49), com o preço de seu Sangue; aquele
fogo belíssimo que desceu sobre Maria e os Apóstolos (cf. At 2, 3).
Contudo, o mesmo
Cristo que promete as maiores recompensas para os fiéis, não deixa de ameaçar
as “árvores que não produzirem bons frutos” (Lc 3, 9; Mt 3, 10) com um “fogo
que nunca se apaga” (Mc 9, 46). O sacerdote é colocado assim, numa perspectiva
que transcende largamente sua natureza humana, entre duas fornalhas eternas:
uma toda feita de amor, outra alimentada pela Justiça Divina.
Mas a santidade própria
ao estado sacerdotal não se esteia no desejo de servir a Deus por temor ao
inferno. O ministro consagrado deve abrasar-se de uma caridade intensíssima que
o consuma, diante da qual nenhum sacrifício, nenhuma renúncia, nenhum
holocausto pareçam excessivos. Chamado a ser “luz do mundo” (Mt 5, 14), o
sacerdote tem o dever de converter-se num sol a iluminar e aquecer a Terra com
o ardor de seu amor a Deus.
Se o católico ideal é
um homem de fogo, o sacerdote só será digno de sua altíssima condição se ele tiver
uma alma incendiada em amor. Se ele for um homem em cujas veias não circula
sangue, mas fervor em brasas.
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