Na Antiguidade, muitos povos atribuíam qualidades divinas a seus governantes, talvez por uma noção imprecisa de que a autoridade vem do Alto (cfr. Jo 19, 11). Os romanos, por exemplo, adoravam os imperadores, o que não os impedia de assassiná-los quando se cansavam de suas crueldades... Mas, na realidade, a História só conheceu um povo que foi governado diretamente por Deus: Israel. Era uma teocracia na sua forma mais pura. Nenhuma outra nação teve semelhante privilégio, nem houve sistema de governo mais perfeito do que esse: o Decálogo permanece pelos séculos afora como exemplo da simplicidade, eficácia e beleza da legislação divina.
Apesar dessa superioridade, o povo exigiu de Deus que lhe desse um monarca, à semelhança das outras nações. Deus atendeu seu pedido e entregou o cetro a Saul, pondo fim à teocracia em Israel.
Com a fundação da Igreja, povo eleito do Novo Testamento, o Filho de Deus escolheu Pedro e seus sucessores para governá-la. Prometeu enviar o Espírito Consolador, deu-lhes o dom de infalibilidade e o poder das chaves (cf. Mt 16, 19). Assim, o sucessor de Pedro permanece como perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade da Igreja, com poder pleno, supremo e universal.
Do tempo em que São Pedro regia a Igreja nascente, sentado em sua singela cátedra, até nossos dias, a complexidade do governo cresceu quase ao infinito. Inspirados pelo Espírito Santo, os Papas souberam adaptar-se às novas circunstâncias, criando ao longo dos séculos os vários organismos da Cúria Romana para os auxiliarem no pastoreio do povo de Deus.
Algumas das atuais congregações romanas devem sua remota origem à construção da atual Basílica de São Pedro, que recentemente comemorou seus 500 anos de existência. Visando levar adiante tão monumental empreendimento, os Papas instituíram a Fábrica de São Pedro, comissão composta por cardeais que se reuniam regularmente para resolver os problemas atinentes à construção. E ficou o costume de se congregarem os cardeais para deliberar sobre os assuntos a eles confiados pelo Papa.
Um dos mais antigos dicastérios da Cúria Romana é a Secretaria de Estado, que remonta aos finais do séc. XV, quando foi instituída a Secretaria Apostólica, destinada a coadjuvar de perto o Sumo Pontífice. Com a descoberta do Novo Mundo, nasceu a necessidade de impulsionar as missões, tendo sido criada a Congregação de Propaganda Fide, hoje Congregação para a Evangelização dos Povos. Após o Concílio de Trento, a fim de interpretar e aplicar as reformas conciliares, foi criada a Sacra Congregatio Cardinalium Concilii Tridentini interpretum, à qual S.S. Paulo VI, em 1967, deu a denominação de Congregação para o Clero.
Deveu-se ao Papa Sisto V, em 1587, a iniciativa da organização da Cúria tal como a conhecemos hoje, dividida em Congregações Romanas, com o que a eficácia da ação pastoral dos Papas se viu muito beneficiada.
Porém, por mais engenhosos que sejam os métodos de organização do governo da Igreja, nunca devemos esquecer, como nos ensina admiravelmente o Concílio Vaticano II, que o Espírito Santo é quem dota, dirige e embeleza a Igreja, mediante os diversos dons hierárquicos e carismáticos (LG n. 4).
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