As leis do espírito são muitas vezes contrárias às da matéria. Assim, à medida que o homem come, seu apetite diminui; após uma boa refeição, ele se sente satisfeito. Na ordem sobrenatural, acontece exatamente o oposto: quanto mais a alma se alimenta dos bens espirituais, mais aumenta sua apetência, a qual só será saciada quando atingir o infinito, ou seja, o próprio Deus, para O qual foi criada.
No que diz respeito à propriedade ou ao uso de qualquer bem terreno, pode-se observar um caso semelhante. Quanto mais bens possuir um indivíduo, um grupo ou uma nação, menos restará para os demais. E o alimento consumido por um, a ninguém mais aproveita. No mundo do espírito, entretanto, dá-se o inverso: pela comunhão dos santos, quanto mais uma alma acumula graças, maior é a participação e o benefício de todas as outras.
Também no campo das funções e das hierarquias nesta vida, os julgamentos humanos e os divinos podem não ser os mesmos. Por exemplo, um simples irmão leigo, iletrado, faxineiro do convento, comparado a um monge do mesmo mosteiro, teólogo eminente. Nesta terra, este último gozará de merecida reputação, por sua vasta cultura, enquanto o irmão leigo será, talvez, tratado de uma forma comum. Passando para a vida eterna, porém, pode muito bem acontecer de o teólogo, com surpresa, ver no Céu o irmão faxineiro ocupando um trono muito superior ao seu...
Algo de análogo pode ocorrer com os povos e as nações nesta terra, pois não são destinados a permanecerem, enquanto tais, após o Juízo Final.
Não é raro, na História, depararmo-nos com um povo relegado a uma posição apagada na ordem internacional que, movido por fatores diversos, cresce, expande-se e, numa curva inesperada dos acontecimentos, eleva- se ao pódio da glória, deixando pasmos incontáveis historiadores incapazes de compreender tal sucesso. Assim, por exemplo, era impensável que dos bárbaros invasores do Império Romano surgisse a Europa.
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