Nas sombras do dia encontramos uma certa imagem do mistério, mas é sobretudo à noite que a linguagem deste é mais intensa e simbólica. E foi este o período escolhido por Deus para o nascimento de seu Unigênito. Ele deveria surgir no silêncio, desconhecido para a grande maioria dos homens. A revelação de sua existência acompanharia os lentos ritmos da natureza criada, como a suavidade de um nascer do sol. Os méritos de nossa fé necessitavam de tal procedimento para poder atingir um elevado grau. Só mesmo por efeito da graça poderia uma criatura inteligente adorar o Salvador posto sobre as palhas de uma manjedoura, ladeado por um burro e um boi.
O povo dormia, a quietude cobria como um denso manto as mais variadas regiões daqueles arredores. Em meio ao frio do inverno, as estrelas cumpriam, despertas e cintilantes, sua função, os pastores guardavam suas ovelhas e só Maria e José, com os Anjos, adoravam o recém-nascido Menino-Deus. O dilúculo de uma nova era se iniciava numa simples gruta.
Como pode ter acontecido que o mais importante nascimento da História tenha-se dado em tão grande anonimato?
Se alguém daquela época conseguisse avançar seu próprio calendário por 2011 anos e contemplasse, com os conhecimentos de hoje, o Divino Infante, indizível seria sua consolação e alegria.
As Escrituras de alguma forma davam elementos para o povo eleito esperar uma intervenção divina para breve, e o próprio Espírito Santo deveria agir sobre as almas nesse sentido. Mas, exceção feita de Maria e José, ninguém chegaria a tão elevada conclusão. Naquela noite, a União Hipostática de duas naturezas, uma criada e outra divina, se tornava realidade aos olhos humanos, mas só a Deus cabiam as qualidades para entender tão elevado mistério.
Assim age a Divina Providência ao longo da História. Para se entender o mais fundo de suas ações, é preciso, quase sempre, deixar correr o tempo, e ser auxiliado pela sua graça. Nada se passa no processo humano sem ter por trás motivos que nossa razão, por si só, não alcança.
Vivemos hoje numa noite mais densa, e talvez até sem as estrelas daquela Beata nox. Terão chegado a seu termo os efeitos do nascimento de um Deus? Há pouco ainda, na festa de Todos os Santos, líamos no Apocalipse que um Anjo ordenou a outros quatro que tinham recebido o poder de danificar a terra e o mar: “Não façais mal à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus” (Ap 7, 3). Quiçá não dirá respeito à nossa época essa profecia. Horrores e pecados não faltariam para atrair à terra Anjos justiceiros tomados de santa cólera. Mas, estará completo o número dos justos? Não são, desta vez, as Escrituras a nos falarem, mas sim a própria Santíssima Virgem, em Fátima: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará”.
Aproximemo-nos do Menino-Deus nesta noite de Natal e, pelas mãos de Maria e José, ofereçamos a Ele nossa Fé em seu poder, agindo sobre os desastres e crises atuais e deles fazendo nascer o Reino glorioso de sua e nossa Mãe Santíssima.
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