Se os homens pudessem ver a Deus como Ele é, em todo o seu esplendor, a vida não seria uma prova, nem seria necessária a virtude da fé, pois ela nos é dada a fim de podermos acreditar naquilo que não vemos. Para crer que um Deus Se fez homem como nós, talvez tenha sido necessário um ato de fé maior, por parte de quem conheceu Nosso Senhor Jesus Cristo em sua vida terrena, do que de quem, dois mil anos depois de sua Ascensão, nasceu e foi educado no seio da Igreja Católica.
Os Apóstolos, por exemplo, conviveram durante três anos com o Messias, no dia a- dia, caminhando a seu lado nas viagens apostólicas, observando suas reações humanas, como o cansaço o sono, a fome, a sede, a tristeza ou a alegria. Esses aspectos humanos de Jesus causavam-lhes dificuldade não pequena de ver n’Ele o Unigênito de Deus.
Tornou-se célebre o inquérito feito por Jesus aos seus mais próximos, durante uma viagem a Cesaréia: “No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?” Nessa ocasião pôde-se comprovar quanto as pessoas em geral, e os próprios Apóstolos, viam n’Ele os aspectos humanos, e não a divindade. Só Pedro — e por revelação do Pai — foi capaz de afirmar; “O Filho de Deus”. E foi nesse binômio entre fé e revelação que Jesus instituiu o Papado: “Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16, 18).
Mas esse acontecimento verdadeiramente grandioso se passou, talvez, à beira do caminho, à sombra de alguma árvore frondosa, enquanto descansavam um pouco, recuperando as forças para prosseguir viagem.
Quem presenciasse tal cena e não tivesse muita fé poderia conjeturar que ali estava nascendo uma instituição destinada a atravessar a História até o fim dos tempos? Impossível. Sem a graça de Deus, quem conheceu Jesus em Nazaré, levando a vida de um artesão, não seria capaz de ver n’Ele senão o filho do carpinteiro.
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Através desse prisma, torna-se mais fácil compreender um dos grandes méritos de São José: crer, desde o primeiro momento, apesar das aparências humanas, que seu filho era o Messias, o Filho de Deus.
Essa fé lhe mereceu a mais alta dignidade à qual algum homem possa aspirar. Ser esposo de Maria, a Mãe de Deus, e pai, por direito, do Filho de Deus! Algum potentado teve tanto poder, a ponto de dar ordens a Deus? E algum rei teve corte tão faustosa que superasse a glória de conviver com pessoas de tão alta condição como Jesus e Maria?
No entanto, José, apesar de ser descendente de David e exercer o pátrio poder sobre o Filho de Deus, viveu toda a sua existência como um honesto carpinteiro. Talvez, até, um pouco desprezado por seus conterrâneos, por não ter ganância e se recusar a auferir lucros desproporcionados a seu trabalho, como o fariam outros. Tudo, nele, era aparentemente comum. Porém, sua fé em Jesus lhe conferia uma estatura superior à do próprio Abraão, e nele vemos realizar-se a figura do maior patriarca do Antigo Testamento, como também da Santa Igreja, que nasceria do Sagrado Costado de Cristo.
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