A primeira instituição humana
não foi governamental, nem econômica, nem mesmo laboral. Criado Adão, e formada
Eva de seu costado, constituíram eles a primeira família humana, princípio e causa
de todas as demais. Desde a origem, como reafirmado posteriormente pelo Salvador
(cf. Mc 10, 6-8), Deus criou o homem e a mulher, os quais, unindo-se segundo um
desígnio eterno de sua sabedoria, “são uma só carne” (Gn 2, 24).
A solidez e estabilidade desta
união — cuja sublimidade foi elevada a Sacramento pelo próprio Cristo como
Fundador da Igreja — se encontram radicadas no fato de ser ela operada pelo
próprio Deus, embora ministrada pelos esposos: a iniciativa é humana, mas o
resultado é divino, porquanto o homem não tem poder para anulá-lo. Esta
realidade foi sancionada pelo Redentor com uma ordem clara: “não separe o homem
o que Deus uniu” (Mt 19, 6).
Foi este um dos elementos que
opuseram-No aos fariseus: muito preocupados pelos aspectos humanos, e pouco
interessados nos desígnios divinos, buscavam estes distorcer os princípios
mosaicos para adequar a Religião às suas paixões. Jesus Cristo, contudo, não
deu a menor margem às suas ânsias; obstinados e impenitentes, com esta e outras
atitudes, os fariseus se empurraram voluntariamente para a margem da
História...
Do casamento concebido segundo
a visão cristã, surgiram as famílias que deram origem às sociedades inspiradas
no Evangelho, destinadas a fazer florescer os frutos do Espírito: “caridade,
alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança”
(Gal 5, 22-23). Com muita organicidade, o homem conhecia uma mulher e,
motivados pela caridade, resolviam casar-se; enfrentavam dificuldades, mas perseveravam
juntos. Passavam-se os anos, e ambos se davam muito bem! Assim perduraram as
sociedades, durante vinte séculos...
Porém, surgiram o divórcio e
formas cada vez mais esdrúxulas de “famílias”; e os problemas, em vez de
diminuir, aumentaram... Assim, chegamos a uma situação na qual a família sofre
duma crise global, até constituir-se hoje uma verdadeira encruzilhada na
História. Com efeito, de modo quase cíclico, a dureza de coração que Jesus
denunciara nos fariseus (cf. Mc 10, 5) torna uma e outra vez a manifestar-se:
com pretextos mais ou menos semelhantes, pretendem sempre retorcer a verdade de
modo a julgar-se no direito de exigir de Deus que justifique os efeitos das paixões
desregradas. Onde encontrar novamente o remédio para este mal antigo?
Para um mesmo problema, vale a
mesma solução. Ontem, como hoje e sempre, o homem nesta Terra nunca poderá
evitar a dor. O segredo da felicidade, portanto, não se encontra em não sofrer,
mas em como enfrentar o sofrimento. A felicidade da família bem constituída se
firma na Rocha sobre a qual foi edificada (cf. Lc 6, 48); enquanto ambos os
esposos se encontram abrasados no amor a Deus, não temem nem vacilam; mesmo
quando sofrem, estão cheios de alegria espiritual. A chave da felicidade de
determinada sociedade consiste, pois, em estar formada por famílias cujos cônjuges
anseiam pela santidade.
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