Realmente,
não há solução. Todos os recursos foram experimentados, e o resultado continua
desastroso, desencorajando os que ainda mantinham restos de esperança.
Mas, de
quem falamos? Qual a situação? A resposta é simples: trata-se da humanidade.
Ao
analisar com objetividade a História, vemo-la como longa sequência de desatinos
e fracassos, à maneira de uma estrada péssima, coalhada de obstáculos e
catástrofes, cada qual mais terrível e assustadora que a anterior. Desolados,
verificamos que a culpa de tais desgraças recai sobre os próprios viajantes,
pois acumularam ao longo do trajeto os destroços de sua imperícia, descuido ou
maldade, para servirem de tropeço aos próximos infelizes que, por sua vez, ultrapassam
os antecessores nesse campeonato de horror.
Em
contrapartida, que imensa profusão de carinho! Com solicitude incansável o
Criador acompanhou o gênero humano ao longo das eras e, sobretudo, atingida a
“plenitude dos tempos” (Gal 4, 4), ofereceu-lhe os méritos incalculáveis da
Redenção operada pelo próprio Filho de Deus. Mas o desdém, a ingratidão e a
revolta parecem ser as únicas respostas a essa abundância ilimitada, a esse
esbanjar ininterrupto de amor.
Assim
chegamos ao século XXI — tão jovem e já tão desvairado —, nascido no mesmo
abismo onde o século XX deu o último suspiro. A Terra não passa de um covil de
feras, selva de ódios e praça de loucuras.
À vista
disso, dizemos: de fato, não tem conserto. No entanto, quem assim pensasse
cometeria grave omissão.
Com
efeito, se raciocinarmos com critérios exclusivamente humanos, poderemos
concluir que a situação é irremediável e o desastre definitivo. Porém,
faltar-nos-ão dados de valor primordial, cuja amplitude somente a Fé consegue
descortinar.
Lembremos
que a bondade de Deus, atributo do qual Ele jamais poderá separar-Se, não é
apenas incomensurável, mas infinita. Ora, na manifestação de tal misericórdia,
a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade agiu como alguém que, desejando
ultrapassar-Se a Si mesmo, sai do âmbito de sua família — onde goza das
excelências de um convívio feito de requintada distinção e inefável doçura — e
lança-se à procura dos infelizes e abandonados, para tornar-Se um com eles e
assim elevá-los à sublimidade de sua nobre estirpe. “Sendo de condição divina”,
decidiu “assemelhar-Se aos homens” (cf. Fl 2, 7) e tornou-os “semelhantes a
Deus” (I Jo 3, 2). Deus então olhou para a humanidade e encontrou nela traços
de sua própria “família”.
Pois
bem, será Ele quem estabelecerá limites a essa misericórdia demasiadamente grande?
Não! Ainda que o mundo role por despenhadeiros mais terríveis dos que até agora
se sucederam, tudo terá solução. E nós, na ufania de verdadeiros familiares do
Verbo Encarnado, fazemos diante d’Ele nossa proclamação de confiança: “Ó
Sagrado Coração de Jesus, pleno de amor e bondade! Se o mundo atual se encontra
mergulhado em tais profundezas, qual será a surpresa que nos prepara vossa
clemência? Apressai-Vos em intervir, Senhor! E, por meio de vossa Mãe Santíssima,
fazei desse extremo de miséria mero pretexto para a manifestação de novas
maravilhas, nas infinitas altitudes de vossa misericórdia!
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