A história dos Reis Magos é um
extraordinário exemplo de correspondência ao chamado de Deus. Viram eles uma
estrela rutilante dentro da qual — segundo uma bela tradição — se encontrava um
Menino que tinha por trás uma luz mais intensa formando uma Cruz 10 e a seguiram
sem hesitação. Esta estrela é um símbolo muito expressivo da Santa Igreja
Católica Apostólica Romana.
Assim como a luz da estrela guiou
os Magos, a Igreja é a luz que cintila incessantemente, sem nunca bruxulear nem
diminuir seu fulgor, para guiar os povos rumo ao Reino de Deus. E, ao longo dos
tempos, todos quantos se converterem é porque de alguma maneira viram esta
estrela e resolveram adorar a Jesus Cristo. Ela continua a brilhar e brilhará
até o último dia da História, como prometeu Nosso Senhor: “as portas do inferno
não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).
Somos fiéis ao brilho desta estrela?
Cabe, aqui, uma aplicação
pessoal: luziu diante de nossos olhos esta estrela por ocasião do Batismo,
quando infundiu Deus em nossa alma um cortejo de virtudes — as teologais: fé, esperança
e caridade; e as cardeais: prudência, justiça, temperança e fortaleza, em torno
das quais se agrupam todas as outras — e os dons do Espírito Santo, e passamos
a participar da natureza divina. Pertencemos ao Corpo Místico de Cristo e o Céu
se abre diante de nós. Tornou-se mais resplandecente esta estrela no dia de
nossa Primeira Comunhão, ao recebermos o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de
Cristo glorioso, para Ele nos assumir e santificar. A todo instante ela nos convida
à santidade, a rejeitar nossas más tendências e a estar totalmente prontos para
ouvir a voz da graça que diz em nosso interior “Vem, segue-me!”, e nos chama a
sermos generosos, de forma a cada um de nós também constituir para os outros
uma estrela, atraindo-os para a Igreja.
Se, por miséria ou por
provação, perdermos de vista esta luz, precisamos ir a Jerusalém, ou seja, à Santa
Igreja, a qual, em seus templos sagrados, se mantém sempre à nossa espera para
nos indicar onde está Jesus. Ali haverá um sacerdote, estará exposto o Santíssimo
Sacramento ou se encontrará uma imagem piedosa, instrumentos para reacender a
estrela existente em nosso coração.
Incumbe-nos, ademais, tomar
cuidado com o “Herodes” instalado dentro de nós: nosso orgulho, nosso materialismo,
nosso egoísmo. Ele almeja apagar esta estrela, pelo pecado mortal, e colocar-nos
nas vias dos prazeres ilícitos; quer levar-nos a matar Jesus Cristo que está em
nossa alma como um luzeiro cintilante. Seremos do mundo e do demônio se
tivermos uma vida dupla, limitando-nos a frequentar a igreja aos domingos e comportando-nos,
depois, como se desconhecêssemos a estrela. Devemos, portanto, estar sempre junto
a Nosso Senhor, oferecendo-Lhe o ouro do nosso amor, o incenso da nossa
adoração e a mirra das nossas misérias e contingências, pedindo constantemente
o auxílio de sua graça.
Compreendamos, nesta Solenidade
da Epifania, que os Magos nos dão o exemplo de como alcançar a plena
felicidade. Com os olhos fixos em Maria, imploremos: “Minha Mãe, vede como sou
fraco, inconstante, miserável, e quanto preciso, ó Mãe, da vossa súplica e da
vossa proteção. Acolhei-me, minha Mãe, eu me entrego em vossas mãos para que
Vós me entregueis a vosso Filho”. E dirigindo-nos a São José, digamos: “Meu Patriarca,
senhor meu, aqui estou, tende pena de mim, ajudai-me a pedir a vossa esposa,
Maria Santíssima, para Ela ter sempre os olhos postos em mim”. Roguemos aos
Reis Magos que intercedam junto ao Santo Casal e ao Menino Jesus, para nos
obter a graça de não procurarmos luzes mentirosas, mas seguirmos a verdadeira
estrela, ou seja, a da prática da virtude e do horror ao pecado.
1 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.36, a.5, ad 4.
Texto extraído dos comentários de Mons João Clá Dias ao Evangelho- Solenidade da Epifania - Revista Arautos do Evangelho - Jan 2016
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