Deus espera de cada
um de nós este sacrifício: desapego daquilo que nos desvia do rumo certo, ou de
qualquer apreensão que amarre nosso coração a algo que não seja Ele, e docilidade
no tocante à sua vontade. Uma vez que nos chamou à santidade, Ele nos quer por
inteiro e que estejamos constantemente com o cutelo elevado como Abraão. Se Abraão
esteve disposto a entregar Isaac, como não estaremos nós
prontos para oferecer aquilo que constitui um obstáculo para a salvação e para
nosso relacionamento perfeito com o Senhor? De quanto proveito seria firmarmos
um propósito ardoroso de pôr sobre a lenha cada um de nossos caprichos, sobre
eles descer a faca e, em seguida, atear-lhes fogo, imolando-os em holocausto a
Deus! Desta maneira, como Abraão, nos tornaríamos livres de qualquer apreço
desordenado às criaturas.
É comum ouvirmos
elogios à fé do santo patriarca, que realmente é digna de todo louvor; mas
talvez mais bela ainda seja sua obediência, refletida na do filho Isaac. “A obediência”
— afirma Santo Inácio de Loyola — “é um holocausto, no qual o homem inteiro,
sem dividir nada de si, se oferece no fogo da caridade a seu Criador e Senhor
[...]; é uma resignação inteira de si mesmo, pela qual se despoja todo de si,
para ser possuído e governado pela Divina Providência”. A obediência praticada
com tal radicalidade obtém-nos a realização das promessas, porque Deus assegura
a Abraão: “Juro por Mim mesmo — oráculo do Senhor —, uma vez que agiste deste
modo e não Me recusaste teu filho único, Eu te abençoarei e tornarei tão
numerosa tua descendência como as estrelas do céu e como as areias da praia do
mar. Teus descendentes conquistarão as cidades dos inimigos. Por tua
descendência serão abençoadas todas as nações da Terra, porque Me obedeceste”
(Gn 22, 16‑18).
Que consolo seria podermos ouvir a voz de Deus dizendo-nos: “Uma vez que recusaste
todos os teus apegos, os queimaste e puseste num altar em sacrifício, Eu te
abençoarei, porque tu Me obedeceste”. A obediência é das virtudes que mais
agradam a Deus; não aquela que se baseia em exterioridades, mas, sim, a que
nasce no fundo do coração, como foi a de Abraão: esta é a obediência autêntica.
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